quinta-feira, 4 de julho de 2013

POLÍTICA: a segunda libertação dos egípcios

Nunca fui um grande entusiasta dos golpes militares, apesar da alegria dada pela Revolução do 25 de Abril de 1974. Mas, fora essa intervenção, ou a do peruano General Alvarado em 1968, a poucos golpes assisti ao longo da vida, que trouxessem consigo promessas de maior liberdade e democracia para o seu povo. Por natureza os interesses castrenses coincidem muito mais facilmente com os das oligarquias dos respetivos países do que com as camadas populares donde provêm, no entanto, grande parte dos seus oficiais e soldados.
Devo, porém, reconhecer a satisfação pela queda do presidente morsi perante a intervenção do exército egípcio. Porque estava em causa, precisamente, a liberdade e a democracia dos cidadãos do grande país situado na bacia do Nilo.
De facto, seja no Egipto, na Turquia ou na Tunísia, têm estado a decorrer um conjunto de lutas patrióticas para impedir a imposição de regimes fascistas de fachada islâmica.
Tem sido lamentável que o vazio ideológico suscitado pelo crepúsculo dos ideais vagamente marxistas - que tinham estado na origem de regimes como os de Nasser, Kadhafi ou Bourguiba - tenha sugestionado gerações sucessivas de jovens do Norte de África e do Médio Oriente a virarem-se para a intromissão da religião na política. E, pior ainda, temos visto o Ocidente a apoiar sucessivos derrubes de dirigentes laicos para os verem substituídos por outros com credenciais antidemocráticas muito similares ou ainda piores do que os anteriores.
Hoje pode-se dizer que os iraquianos estão melhor do que no tempo de Saddam? Ou, acaso Assad tenha de fugir de Damasco, será substituído por quem tenha para com as diversas comunidades religiosas sírias a mesma temperança que o regime alauita?
Com o derrube do presidente saído das fileiras da Irmandade Muçulmana, o exército egípcio deu satisfação às centenas de milhares de manifestantes da praça Tahrir. Agora restar-lhe-á devolver o poder a um presidente e a um governo democrático e laico, capaz de marginalizar quem possui da política a perspetiva inerente ao seu proselitismo religioso...


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