É difícil não sermos seduzidos pelos encantos da grande ilha do oceano Índico, mesmo sabendo que Madagáscar é um dos países mais pobres do mundo. Pelo menos, no meu caso pessoal, dificilmente esquecerei esse passado de marinheiro ainda nas graças do mar, quando aportei à praia de Nossi-bé e aí ajudei os passageiros do paquete a saltarem para a margem, iniciando ali a custosa caminhada para irem ver os lémures no seu estado selvagem. Nunca mais esqueci o fascínio suscitado por essa paisagem, apesar de terem passado mais de vinte anos desde então!
No documentário de Dumont, Rossignol e Grimm temos a oportunidade de percorrer o sul da ilha a partir da capital, Antananarivo. Nesta ainda se veem muitos 2CV e carrinhas 4L a servirem de táxis, apesar de já contarem com dezenas de anos desde que saíram das linhas de produção da Citroen ou da Renault, respetivamente. As peças de substituição são produzidas artesanalmente ou provém da Índia ou da China.
Pela estrada 7 a equipa de filmagem chega a Antsirabé, a cidade dos riquexós, que aí perduram desde a época da chegada de muitos chineses para trabalharem nas minas. Segue-se Ambositra, a capital da madeira e aonde começa o território dos Zafimaniry, o povo das florestas. Azar deles: a exploração intensiva da sua riqueza natural está a ameaçar o estilo de vida de tantas gerações.
Em Fianarantsoa parte um dos derradeiros comboios ainda em circulação, muito embora as avarias sejam frequentes, devido à vetustez das suas composições. Inicia-se ali uma viagem de dezassete horas através da natureza selvagem até se chegar a Manakara na costa oriental. Outrora foi cidade esplendorosa graças ao comércio das especiarias, mas hoje resta-lhe a pesca (cada vez mais rapada pelos arrastões asiáticos a poucas milhas de terra) e o remanescente turismo.
Da costa oriental á ocidental percorre-se uma diagonal através de paisagens sumptuosas até Ilikaka, a cidade das safiras. A maior jazida mundial dessas pedras preciosas é explorada anarquicamente num ambiente de Faroeste.
Chega-se finalmente a Tuléar, a grande cidade do sudoeste fustigada pelo ciclone Hurana em fevereiro. Os vestígios dessa catástrofe ainda são bem percetíveis, havendo quem adie as esperanças de reconstrução para as próximas eleições presidenciais, como se os vários governos não tenham dado sobejas demonstrações de incompetência para garantir um desenvolvimento minimamente sustentável do país.
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