sexta-feira, 29 de novembro de 2013

POLÍTICA: E se o PS falasse e agisse mais de acordo com o seu programa?

Eu pecador me confesso: nas eleições de 2011 para secretário-geral do Partido Socialista o meu voto foi para Francisco Assis, esperançado em que ele correspondesse à continuidade da visão de José Sócrates para o país, que pretendemos construir: a aposta na qualificação dos portugueses, com grande incidência na Educação e na Investigação Científica, e nas energias renováveis capazes de potenciarem uma indústria vocacionada para a exportação.
Passados dois anos tenho de reconhecer o meu equívoco: em sucessivas intervenções, quer escritas, quer verbais, Assis tem-me recordado quase sempre aquela célebre cena de um filme de Nanni Moretti em que este insiste com Massimo d’Alema (então a liderar a oposição a Berlusconi) para que dissesse algo de … esquerda!
No seu texto inserido ontem no «Público» assume um distanciamento crítico em relação à sessão da Aula Magna, que o coloca na trincheira oposta dos que pretendem alterar o presente estado de coisas com determinação: O que se passou na Aula Magna suscita respeito, mas desperta escassa esperança. Pode funcionar como alerta, mas não deve ser percebido como solução. O caminho da esquerda tem de ser outro, não tendo necessariamente que contradizer tudo aquilo que naquele local se sentiu. É óbvio que compete ao Partido Socialista a assumpção de um papel determinante na construção da alternativa de que o país carece. Não confundamos, contudo, esta incumbência que exige tempo, método, trabalho, disciplina, com orações retóricas momentâneas por muito apelativas que estas possam parecer. É por isso mesmo que o maior partido da oposição não pode ter a pretensão de concorrer com assembleias de subsistência momentânea e projeção limitada ainda que incisiva.
Tempo? Método? Trabalho? Disciplina?
Será que não estamos numa situação de emergência em que há que enterrar os mortos e socorrer os feridos depois do terramoto, que a direita está a provocar na vida dos portugueses?
O que Assis propõe é a atitude pífia, que tem levado milhares de portugueses a questionarem-se por anda o Partido Socialista, quando os ataques do (des)governo de direita à democracia e à exequibilidade de uma independência económica do país nos anos mais próximos assumem tão grande dimensão.
Assis continua a verberar ataques privilegiados contra o PCP e o BE por causa do PEC IV, quando é evidente que o tempo não volta para trás e de nada serve continuar a chorar sobre leite derramado.
Aqueles que se identificam com o discurso de Mário Soares na Aula Magna teriam gostado de ver algum dirigente socialista a estar presente junto com Arménio Carlos, com Pedro Nuno Soares e com Bruno Dias  no piquete de greve dos CTT, porquanto a luta por manter essa empresa no domínio das empresas públicas não deverá ser apenas confiado aos bloquistas ou aos comunistas. Tanto mais que Miguel Macedo e o seu novo chefe das polícias aproveitaram o ensejo para demonstrar uma ação musculada contra quem  manifesta a sua indignação pela deriva autoritária e austeritária da coligação no poder.
Assis, e já agora a direção nacional do PS, deveria questionar-se se não é com a abstenção em dar o corpo ao manifesto nas lutas empreendidas diariamente por quem sofre as consequências desta política, que se consolida a ideia de faltar uma alternativa credível a este estado de coisas.
Como socialista espero que o meu Partido comece a agir mais de acordo com os ideais de esquerda em que assentam o seu programa político.


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