Nesta época de comemorações de diversas efemérides, o centenário do nascimento de Benjamin Britten terá passado quase despercebido entre nós. O que se compreende: apesar dos esforços meritórios da Gulbenkian ou da Casa da Música em inserir obras de compositores do século XX nos seus programas, o público-tipo dessas salas continua a preferir as dos séculos anteriores, sobretudo quando se trata das grandes obras do classicismo ou do romantismo.
A música contemporânea continua a ser algo que ainda custa a passar da fase do «estranhar-se» para depois «entranhar-se» para usar a célebre fórmula pessoana para promover a coca cola ainda o Estado Novo estava no início.
Por outro lado a situação calamitosa em que caiu o São Carlos nos últimos anos, torna utópica a esperança em ver por exemplo aí representada a ópera «Peter Grimes», uma das mais relevantes na biografia de Britten.
Ainda hoje o professor Sobrinho Simões confiava em entrevista ao «Público», que este Governo fez uma espécie de destruição criativa: rebentou com tudo. Nas ciências, no cinema, no teatro, na música e na cultura em geral: a herança a receber pelo governo, que iniciar o trabalho de recuperação deixado pela direita, será o de uma terra queimada só a gosto dos camilos lourenços e dos césares das neves para quem tudo quanto difira dos números das folhas de excel e do gáudio dos credores constitui um desperdício.
Aquilo que fora uma evidência para gerações de portugueses, que prezaram a cultura através do meritório trabalho demonstrado em cineclubes e sociedades recreativas, mesmo durante o fascismo - a impossibilidade de se atingir o patamar das sociedades mais desenvolvidas e igualitárias sem uma cultura de base bem consolidada nos seus cidadãos! - terá de ser retomado como objetivo prioritário nos tempos que virão. A tal paixão pela educação de que falava António Guterres e a que os governos de José Sócrates procuraram dar expressão ainda mais ambiciosa.
Só então teremos a certeza de não passar tão ignorado o centenário do compositor inglês, que significou para muitos o paradigma do génio musical no século, que ainda há pouco deixámos...
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