Neste 7 de novembro passaram-se cem anos sobre o nascimento do escritor francês Albert Camus em Mondovi, aldeia argelina perto de Constantina.
Embora lhe tenha preferido Sartre como escritor e conceptualizador de ideias, a personalidade de Camus é estimulante quanto baste para lhe dedicarmos um conjunto de textos em jeito de revisitação da sua obra.
Foi em Argel, no bairro popular de Belcourt, que o jovem Albert passou a infância e a adolescência, caracterizadas pela pobreza material da família e pela omnipresença do sol mediterrânico. Nunca esquecerá, nem uma, nem a outra!
O pai, operário agrícola, morre como soldado em 1914, quando nem um ano conta. Dele só conhecerá uma fotografia e algumas histórias, uma das quais versava sobre a antipatia pela pena capital. Mas sente um carinho inalterável pela mãe analfabeta, que pensa e fala com dificuldade. Pode-se pensar que o desejo e a vontade precoce em tornar-se escritor possa dever-se a uma resposta a essa ausência e a tal silêncio.
Aos 17 anos, quando frequenta como bolseiro o liceu de Argel, é acometido de tuberculose, doença de que conhecerá ulteriormente numerosas recaídas, com prejuízo para a realização de muitos dos seus projetos,
A doença confrontará o adolescente, que tanto gostava de jogar futebol ou nadar na praia, com a sua mortalidade e solidão. Tornam-se fundamentais, nessa altura, o encontro com Jean Grenier, seu professor, inspirador e, depois, amigo, e a descoberta de Nietzsche.
Tem um primeiro casamento em 1934, que acaba rapidamente, dois anos depois.
Em 1936 defende a sua tese de licenciatura na Faculdade de Argel. O tema: «Metafísica cristã e neoplatonismo». Em paralelo com o seu percurso académico, ganha a vida em diversos empregos e milita em movimentos políticos contra o fascismo, pela paz, pela valorização da cultura popular e, logo a seguir, pela Espanha Republicana.
Influenciado pelo Partido Comunista, cujas hostes passara a integrar a partir de 1935, funda o «Teatro do Trabalho», onde é simultaneamente ator, encenador e adaptador de Malraux, Gide, Ésquilo, e coescreve a peça «Revolta nas Astúrias» para nele ser representada.
Quando deixa o PC em 1937 por o ver dissociar-se do nacionalismo argelino, funda o «Teatro da Equipa», cujo reportório confirma a preferência pelo teatro espanhol ou isabelino.
A paixão pelo teatro acompanhá-lo-á durante toda a vida não lhe impedindo a intenção de escrever para testemunhar aquilo que conhece: a vida num bairro pobre, onde descobrira o verdadeiro significado do sentido da vida.
Após diversas tentativas romanescas, publicará L'Envers et l'Endroit, que será, em 1937, a sua primeira obra. Trata-se do relato das suas experiências pessoais na infância, das viagens pela Europa, do que vira ou ouvira, e da correspondente reflexão sobre a sua componente simbólica e moral. Está lá a beleza do mundo, mas também da impossibilidade de viver apaixonadamente sem o contraponto do desespero.
Datará de então a vertente filosófica dos seus romances: “se quiseres filosofar, escreve romances”.
Sem comentários:
Enviar um comentário