Um tipo de discurso, que muito irrita é o dos arrependidos da esquerda ou da extrema-esquerda tão ciosos em defenderem os valores ideológicos da direita neoliberal quanto antes haviam sido sectários nas suas profissões de fé nas diversas escolas do «comunismo» internacional. Gente como zita seabra, josé manuel fernandes ou helena matos são tão antipáticos de escutar quanto um nuno melo ou um marco antónio costa, por serem exemplo da regra segundo a qual um fanático, quando o é, continuará a sê-lo para o resto da vida, mesmo a advogar o oposto do que antes apadrinhava.
E, no entanto, ser de esquerda também significa não enfiar a cabeça na areia e ignorar os exemplos das más práticas praticadas à sua conta.
O filme de Licínio Azevedo, agora em exibição, num cinema de Lisboa - «Virgem Margarida» - ilustra o que foi o equívoco da implementação das doutrinas “marxistas-leninistas” em África, através da provação a que foram sujeitas as prostitutas (e não só…) moçambicanas no início da independência.
Internadas em campos de trabalho, eufemisticamente crismados de “reeducação”, elas foram vítimas colaterais de uma mudança histórica, que as ultrapassara sem se darem conta.
Que os regimes então idolatrados como progressistas pelos referidos gurus da direita neoliberal tenham redundado na ditadura de Mugabe, na corrupção oligárquica de José Eduardo dos Santos ou em situações ainda mais dramáticas como as sucedidas na Etiópia, só demonstra como o ideário de Marx não permite a superação das etapas obrigatórias pelas quais uma sociedade tem de passar de sistemas de exploração do homem pelo homem para outros mais igualitários e, esses sim, merecidamente designados como socialistas.
O filme de Licínio Azevedo vale pela demonstração prática daquele princípio básico cantado por José Mário Branco logo após o 25 de abril: quem tenta ir muito à frente da História acaba por se engasgar...
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