domingo, 10 de novembro de 2013

É favor evitarem mais tiros nos pés!

Uma das iniciativas políticas mais ridículas ocorridas no pós-25 de abril foi a criação, em 1976, do Partido Operário de Unidade Socialista (POUS), por parte de dois ex-deputados do PS: Carmelinda Pereira, Aires Rodrigues. O objetivo anunciava-se ambicioso: como a esquerda portuguesa estava dividida - existindo então uma luta fratricida bastante violenta entre socialistas e comunistas - aqueles dois dirigentes políticos acharam que a melhor solução para os unir era a de ... criar um novo partido!
O resultado viu-se: nem a esquerda se uniu, nem o POUS saiu da condição de grupúsculo com um número residual de votantes em todas as eleições, que se seguiram.
Mas as lições da História costumam ser esquecidas por quem as deveria ter mais presentes. E, trinta e  sete anos depois, temos o deputado europeu Rui Tavares a avançar para um novo projeto partidário fundamentado no mesmo objetivo: conseguir a missão impossível de unir a esquerda.
Pode-se levar em conta a circunstância de ele só contar 4 anos, quando se verificou aquela micro-cisão no Partido Socialista, mas tendo em conta tratar-se de um historiador, já se compreende menos o seu alheamento das consequências negativas inerentes a tal intenção: não só se mostrará incapaz de seduzir eleitoralmente votantes em número bastante para lhe assegurarem a continuidade em Bruxelas, como dará novos argumentos a uma direita que, do seu palanque, continuará a ironizar com o estilhaçamento cada vez maior dos seus supostos adversários.
Lamentavelmente, continuamos a verificar que os piores inimigos da esquerda portuguesa não são os partidos da direita nem o patronato, que os financia, mas quem está supostamente na mesma trincheira a reivindicar os mesmos valores igualitários, que deveriam ser os seus.
 Por tal razão nutro uma antipatia óbvia pelo projeto de Rui Tavares, um deputado que até começou por me merecer justificada atenção pelo conteúdo do seu discurso, mas com uma ambição pessoal desmedida para as suas verdadeiras capacidades.
Na minha perspetiva já temos em Portugal partidos de esquerda suficientes para que quaisquer outros se tornem supérfluos.
Podemos estar insatisfeitos com as linhas políticas por eles defendidas? É claro que sim. Mas temos o dever de, no seu interior, combate-las e tentá-las mudar!
Tomar a atitude de Rui Tavares, que se aproveitou do Bloco de Esquerda para ganhar sinecura no Parlamento Europeu e, lá chegado, logo disse adeus a quem o alçara a tal mandato, comprova um carácter com o qual não posso de forma alguma pactuar. Daí que, quando Francisco Assis andou a promover a sua possível integração na lista socialista às próximas eleições europeias, eu tenha discordado totalmente do político a quem apoiara anteriormente para ser secretário-geral do PS.
Ao contrário do Daniel Oliveira e Clara Ferreira Alves que, no «Eixo do Mal», manifestaram algum entusiasmo com a ideia, não conheço mais ninguém que esteja à espera do anunciado novo partido para se sentir finalmente representado nas suas ideias e interesses.
A união da esquerda passará obrigatoriamente pelos atuais partidos e já deu sinais de se tornar exequível, porquanto o PS e o Bloco por um lado, e este último com o PCP pelo outro, já conseguiram sentar-se à mesma mesa e discutirem as suas posições.
Ainda não deram sinais de convergência na ação política contra o governo de direita? É claro que só o podemos lamentar! Mas o esvaziamento das manifestações mais recentes demonstra que o combate político dos próximos tempos nem passará pela rua nem poderá limitar-se ao parlamento. É altura de no Rato, na Soeiro Pereira Gomes e na Rua da Palma começarem a ser ensaiadas vias mais consequentes para sustentabilizar as necessárias vitórias a alcançar nos desafios que se anunciam!


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