sexta-feira, 8 de novembro de 2013

LITERATURA: entrevista histórica com Susan Sontag, trinta e cinco anos depois

Em 1978 Jonathan Cott entrevistou Susan Sontag para a «Rolling Stone». O documento, bem revelador das preocupações e da personalidade da escritora, ganhou tal dimensão, que a revista o reduziu a um terço da sua extensão original.
Trinta e cinco anos depois, essa entrevista sai completa sob a forma de livro em pouco mais de uma centena de páginas e faz-nos evocar outra figura ímpar da nossa intelectualidade, também entretanto desaparecida e quase esquecida: Eduardo Prado Coelho.  Porque, salvaguardadas as devidas distâncias, ambos terão imitado Tucídides na conhecida máxima segundo a qual tudo o que era humano lhes interessava, não se furtando a mudar de opinião sempre que a dialética das argumentações em confronto os fazia vacilar nas suas momentâneas certezas.
A entrevista ainda indicia outro aspeto característico de Susan: uma autêntica obsessão pela criação de uma espécie de versão idealizada de si própria.
Não havendo um fio condutor, ficam realçados alguns dos temas dominantes do que lhe interessavam:  o ideal de autonomia pessoal, as complexidades do amor e da amizade com a sexualidade, a forma como as ideias e os comportamentos irrompem na mente.
Na época ela já desenvolvia uma luta tenaz contra o cancro, não surpreendendo, pois, a relevância com que a morte surge na conversa.
A evidência da sua permanente curiosidade revela-se na impressão de ter lido quase toda a literatura ocidental e nela ter aprendido tudo quanto importava conhecer. Nesse sentido ela designa essa busca pessoal como um valor fundamental da essência humana, até para evitar os riscos de cristalização.
Essa preocupação revela-se, igualmente, no que Jonathan Cott revela a  posteriori: Susan estava desejosa de rever o texto tal qual assumiria na sua versão final, porquanto duvidava que, passando muitas semanas desde a data da entrevista, algumas das suas opiniões se pudessem manter tal qual as expusera. A entrevista é, pois, um retrato dela tal qual era nessa data concreta.
Por outro lado a importância da escrita tinha a ver com essa vontade de validação crítica permanente das suas opiniões: o que ia redigindo funcionava como um autêntico motor dessas mudanças
A seriedade intelectual, que sempre a perseguiu, resultava dessa permanente vontade de reaferir tudo quanto forjava o seu pensamento.


Sem comentários:

Enviar um comentário