quinta-feira, 28 de novembro de 2013

CINEMA: e se a Justiça fosse possível de vez em quando...


Será dos filmes mais interessantes a ver obrigatoriamente de entre os que se estreiam nesta quinta-feira: um homem confessa o seu percurso de vida como militar do exército português em África e, depois, como mercenário a soldo do Estado espanhol para matar ativistas da ETA e da extrema-esquerda.
Pode um filme ter como protagonista o exato oposto do tipo de pessoa com quem poderíamos simpatizar? Teremos estômago para ouvir um discurso abjeto, que contradiz todas as nossas convicções sobre democracia, sobre política?
Salomé Lamas terá vencido esse desafio. O artigo encomiástico publicado nesta quarta-feira pela historiadora Irene Pimentel no «Público» convenceu-me a acorrer este fim-de-semana a ver «Terra de Ninguém» numa das poucas sessões disponibilizadas pelos quatro cinemas de Lisboa onde passa. Até porque encerra um certo sentido moral: o homem que, sem escrúpulos, matara pretos ou esquerdistas, acaba por se tornar num sem-abrigo contando como companheiros de aflições ... dois africanos.
Caso para considerar que, mesmo não existindo justiça divina, algo de vez em quando acaba por a imitar.
Numa altura em que o ódio á cultura por parte do governo redundou numa paralisia quase total do cinema feito em Portugal, assistir a este filme acaba por representar um comportamento militante.


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