O que é demais também enjoa! A expressão pode aplicar-se a muitos exemplos, mas vem ela a propósito da periodicidade diária com que passos coelho ou o seu irrevogável vice nos andam a presentear com prolongados exercícios de propaganda. Hoje lá voltámos ao mesmo: liga-se a televisão, faz-se zapping pelos principais canais de notícias e lá estava o morador de Massamá a multiplicar-se em autoelogios e em ameaças mais ou menos veladas a quem se mostrar disposto a não colaborar com a sua estreita visão da realidade.
Quem terá ainda paciência para o ouvir?
De qualquer forma torna-se cada vez mais evidente a grande mudança operada com o Novo Ciclo: a austeridade continuará pura e dura, a dívida a crescer sem sinais de infletir, os jovens a despedirem-se dos pais no aeroporto e a procurarem solução noutras latitudes, homens e mulheres desesperadas a recorrerem a múltiplas formas de suicídio para porem cobro ao seu desespero, mas a propaganda do governo ganhou uma dinâmica imparável. Temos assim «milagres económicos», exportações a crescerem como nunca, desemprego a descer até quase ao pleno emprego, perspetivas de descida do IRS, e toda uma caterva de outras atoardas, que só têm paralelo com os discursos de passos coelho em maio de 2011, quando tudo prometia e nada estava disposto a cumprir.
Constata-se que os spin doctors do governo andam muito ativos, apesar de não revelarem grande imaginação nas expressões de propaganda, que andam a multiplicar: os discursos dos líderes da coligação continuam cinzentos e sem surpresas. Por isso mesmo este fôlego no trabalho de comunicação manipulada está condenado ao fracasso, como o constatou o jornalista Fernando Madrinha do «Expresso», a propósito da passagem de passos coelho pela Concertação Social.
Recordemos que, durante uns dias, os altifalantes do governo nas rádios e nas televisões andaram a promover essa participação, que comprovava a importância conferida ao diálogo com os parceiros sociais. Chegando ali com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, passos saiu dali numa triste figura. E, acrescenta o jornalista: quer um compromisso para depois da troika, mas declara-se, em contrapartida, incapaz de se comprometer desde já com coisa alguma. Nada mais desconcertante na sede da Concertação. O que terá ido lá fazer?
Os cidadãos vão constatando que, esdrúxulo em palavras, o governo continuará muito constante no ataque aos seus direitos fundamentais. E tenderão a execrá-lo com ainda maior determinação. Até porque continuam a chegar-lhe aos ouvidos as provas de algo, em que o governo não mudou: a colocação dos seus boys em funções para as quais não possuem quaisquer habilitações. Senão veja-se o exemplo descrito no mesmo «Expresso», pelo jornalista João Garcia, que o foi respigar ao pasquim matinal da Covina: o secretário de Estado da Cultura, barreto xavier acabou de nomear para seu adjunto um garboso moçoilo de 24 anos, cujo currículo se compunha de seis meses de estágio numa rádio, oito meses aí empregado, até passar a funcionário do PSD durante seis meses. Agora nomeado para assessorar o desgovernante em causa, esse rapaz auferirá um ordenado praticamente igual ao de um chefe de serviço hospitalar sem exclusividade ou ao de um coronel, mais do que um juiz de primeira instância e o dobro de um professor efetivo em início de carreira.
Em tempos que já lá vão, por situações muito menos rocambolescas, os governos socialistas foram zurzidos violentamente em títulos de primeira página. Agora este tipo de revelações fica remetido para notas de rodapé como se tivessem adquirido estatuto de perfeita normalidade…
Mas obviamente que os discursos diários de passos coelhos ou do seu vice não explicam nada sobre estes bem mais candentes assuntos. A exemplo aliás do que se passa com crato, que nada explicou sobre a reportagem de Ana Leal na TVI, esperançado em que o silêncio consiga remeter para o esquecimento a sua criminosa política de favorecimento dos proprietários dos colégios privados disseminados por todo o país...
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