quarta-feira, 13 de novembro de 2013

FILME: «Era uma vez uma floresta» de Luc Jacquet

Hoje estreou-se nos ecrãs franceses o mais recente documentário de Luc Jacquet, um dos realizadores mais interessantes dos que, entre os europeus, procura divulgar os segredos da fauna e da flora do planeta Terra. Há oito anos o seu filme sobre a epopeia dos pinguins imperador na Antártida constituiu um enorme sucesso cinematográfico, inclusive em Portugal.
Desta feita ele recorreu aos bons ofícios do botânico Francis Hallé para ir à procura do que de misterioso se passa nas canópias das florestas tropicais primárias, procurando-as do Perú ao Gabão.
O filme mostra como elas se formaram durante sete séculos, desde os seus primeiros rebentos até às atuais interações entre a vegetação e os animais. Por imagens verificamos que cada planta e cada animal tem um papel específico a desempenhar para garantir a preservação do equilíbrio precário do «pulmão verde».
Jacquet e Hallé iniciaram o projeto em 2011, questionando-se como poderiam conceber um argumento interessante tendo por personagens esses monstros imóveis, que são as árvores. Ao mesmo tempo que pretenderiam evitar as visões catastrofistas e as lições de moral sobre o desaparecimento das grandes florestas primárias, também não prescindiam de dar a entender a riqueza desse mundo.
O filme é impressionante, consistente e coerente, conseguindo abarcar o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, através da complementaridade entre as imagens colhidas de cima e as captadas ao nível dos ramos das árvores ou do solo. Ademais, ao escolher a estratégia do conto  para dar a conhecer as fabulosas histórias das árvores criadoras da chuva ou das lutas de titãs entre monstros homéricos de madeira, o filme consegue pôr o mais fanático dos citadinos a interessar-se por botânica. Até porque é difícil não sentir uma autêntica empatia com Francis Hallé, quando ele nos confidencia: quando comecei em 1960, ainda existiam muitas florestas tropicais primárias. Teria rido se me anunciassem a sua iminente extinção para daí a cinquenta anos. Mas a deflorestação ocorreu tão rapidamente - na duração de apenas uma vida, a minha.
Sentado entre os ramos entrançados de uma enorme árvore, Francis Hallé contempla a floresta e reconhece já ter quase perdido o seu combate. Mas que o quanto ainda resta vale a pena preservar por valer todo o ouro do mundo.



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