Que os deuses andam loucos confirmam-no algumas afirmações retidas dos jornais e das televisões e debitadas nos últimos dias.
A primeira devemo-la a Luís Montenegro, quando comenta a peça acusatória da Operação Marquês como demonstração de ninguém estar acima da lei. Homessa! Então se este ministério público assumidamente zarolho tivesse mostrado o mesmo empenho em clarificar os enriquecimentos súbitos de Dias Loureiro e de alguns expoentes importantes do cavaquismo acoitado ou não à Sociedade Lusa de Negócios teria tido por certo a oportunidade de fundamentar acusações bem mais sólidas do que a coisa gelatinosa criada para promover o assassinato político de José Sócrates. E se tivesse indagado com igual fervor a história da compra dos submarinos será que Paulo Portas e mais uns quantos a ele associados escapariam incólumes às suspeitas, que os jornais trataram de silenciar?
Depois foi Rui Rio a facultar-nos a oportunidade para nos divertirmos, quando dissocia o PSD das ideologias de direita. Por certo precisará de óculos, porque com ele ou sem ele, o partido criado por Sá Carneiro e Pinto Balsemão nunca quis outra coisa senão favorecer os mais ricos e tramar a vida aos estratos menos abonados.
Para não ficar atrás Santana Lopes já definiu quem quer ver à frente da bancada laranja se ganhar as primárias de janeiro. Entre a presunção arruaceira de Miguel Morgado e a senilidade precoce de Duarte Marques (a quem Ana Drago chamou de «velho» já há uns anos num debate parlamentar) as escolhas do ainda provedor da Santa Casa falam por si mesmas. Se pensávamos que Hugo Soares era o patamar mais rasteirinho a que o PSD poderia chegar, as escolhas anunciadas conseguem-no igualar sem promessa de remissão.
A quarta estória já tem uns dias, mas foi confirmada pela NBC pondo Trump aos pulos de raiva: ao pretender decuplicar o número de armas nucleares dos EUA durante uma reunião turbulenta com os chefes militares, viu-se tratado de «bronco» pelo seu secretário de Estado Rex Tillerson. A atual Administração da Casa Branca vai provando que consegue sempre piorar do que já de tão má aparentava.
E, porque as surpresas parecem inesgotáveis até o departamento de Vítor Gaspar no FMI veio dar um ar da sua graça afiançando que os países têm de se tornar menos desiguais, pelo que devem ser incentivados a aplicar sérias medidas de progressividade fiscal, ou seja, por outras palavras, que devem ser os ricos a pagar as crises. Ademais, e porque o debate sobre o assunto ganha pertinência, também veio defender a aprovação de um rendimento mínimo universal como forma de combater as situações de pobreza e a previsível redução de empregos com a cada vez mais alargada robotização e automação.
Se todos estes sinais não são a comprovação de como a realidade anda a ser virada do avesso, não sei que mais preciso será?
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