Os meus amigos marcelistas vão ter de me aturar novamente a pretexto do artigo, que o «Público» hoje inseriu na sua edição, e em que Liliana Valente conta como, antes do seu discurso ao país, “o chefe de Estado estava a par de tudo o que estava a ser preparado, na reação às tragédias deste Verão — e Marcelo nunca terá transmitido qualquer desacordo com esses passos e o calendário a seguir.”
Não sei o que esses amigos terão a dizer em defesa do seu «mais do que tudo» mas, na minha escala de valores, o comportamento de Marcelo é o de um traidor. Com todas as letras…
Porque uma das medidas conhecidas era a da demissão da ministra Constança Urbano de Sousa e Marcelo quis ficar na fotografia como sendo o ordenante do seu despedimento. Que depois tenha tido o topete de a abraçar calorosamente na cerimónia de tomada de posse dos novos ministros e secretários de Estado só confirma a sua natureza dúplice, hipócrita. Confirma o jornal: “apesar da forte pressão, Costa defendeu que a substituição da ministra só deveria acontecer depois do Conselho de Ministros, para que fosse Constança a apresentar as medidas que preparou. ‘Estava tudo acordado. O Presidente sabia da saída da ministra’”.
Podemos aventar até que ponto Marcelo terá tido a noção de que a SIC estava a fomentar a organização de grandes manifestações contra o governo no passado sábado e viu nelas a possibilidade de cavalga-las para o objetivo de apressar o inconfessado desejo de se ver livre da coabitação com um governo que execra. Valeu a Costa que, desta vez, o conhecido faro de Marcelo para agir de acordo com as circunstâncias lhe saiu gorado.
Questionado entretanto pelos jornalistas quanto à mudança no relacionamento com António Costa, Marcelo terá “chutado para canto”, eximindo-se a responder sobre a substância do que se lhe exigia…
“A concretização, sabia Marcelo, estava a ser preparada para apresentar no Conselho de Ministros no sábado seguinte. Mas Costa foi obrigado a mostrar parte delas logo no dia seguinte, no debate quinzenal (vistas ali como cedências ao discurso do chefe de Estado): desde o reforço de verbas no Orçamento para 2018, à demissão da ministra ou mesmo sobre as indemnizações às vítimas. Aliás, sobre as indemnizações, Marcelo pressionou o Governo a fazer uma avaliação “de forma rápida”, de modo a indemnizar as vítimas de Pedrógão no dia antes dos incêndios de Outubro. Mas o tal mecanismo extrajudicial já vinha a ser preparado - com Belém informado - e estava agendada a reunião com a Associação de Familiares das Vítimas para quarta-feira, no dia em que foi apresentada esta medida.”
Como diria o povo, há sempre males que vêm por bem: são muitos os testemunhos dos que se confessam enganados pela aparente simpatia do selfieman e só agora se apercebem da sua verdadeira natureza. Não é o elo de confiança entre o presidente e o primeiro-ministro, que se quebrou, porque um e outro são suficientemente inteligentes para adivinhar a rutura mais tarde ou mais cedo. O que se acelera é a quebra dessa confiança entre muitos socialistas, que se eximiram de votar no candidato mais íntegro das eleições presidenciais de 2016 - Sampaio da Nóvoa - para votarem em quem continua a fazer de Belém a sede da contínua ação conspirativa contra quem os quer bem governar...
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