terça-feira, 24 de outubro de 2017

Às vezes o monge é bem melhor do que a capa que veste

O Bloco de Esquerda não terá gostado do nome de Tiago Oliveira como novo líder da estrutura de missão para a instalação do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais, apontando-lhe a mácula de estar vinculado à antiga Portucel, aonde tem desempenhado cargo responsável na gestão das suas áreas florestais.
Às vezes fico espantado com a imaturidade das posições deste importante parceiro da maioria parlamentar, sobretudo por olhar para o hábito sem ter em conta o monge. Não têm noção de que os melhores técnicos capazes de combaterem a pirataria informática são hackers reconvertidos para essa missão absolutamente contrária ao que vinham fazendo até então? E têm dúvidas quanto à competência técnica de quem, já em 2006, assinara um programa de reforma florestal que não chegou a ser implementado na integra pelo sempiterno argumento da falta de verbas, mas que continha muitas das propostas agora aprovadas no pacote de medidas do governo na sua reunião extraordinária?
Talvez os responsáveis do Bloco tivessem necessidade de ter passado pela minha experiência de há quarenta anos quando conheci uma das pessoas mais excecionais de quantas cruzei até hoje: um oficial da ponte em navios petroleiros, que professava uma fundamentada defesa dos princípios ecológicos numa altura em que os seus paladinos eram vistos como excêntricos. De qualquer modo ele era suficientemente incisivo nas críticas às práticas seguidas naquele tipo de navios para que os imediatos se atrevessem a deitar para o mar o que resultava da lavagem dos tanques quando estávamos mais próximos das zonas costeiras. O Leitão foi o caso mais paradoxal de quem tinha de vestir uma capa que não coincidia verdadeiramente com quem era, mas ninguém se atreveria a contestar-lhe a competência. Infelizmente uma bala perdida numa tentativa de golpe de Estado em São Tomé ceifar-lhe-ia tragicamente a vida precocemente no início dos anos oitenta.

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