Estes têm sido dias de confirmação de caracteres - ou da sua falta - por parte de algumas figuras gradas da nossa vida política.
Com a moção de censura, que constituiu um tiro de pólvora seca, Assunção Cristas quis parecer uma política séria e preocupada com as agruras dos portugueses. Não conseguiu, porém, dissociar-se da pose oportunista e chico-esperta, que a revelou bem menos inteligente do que o filistino antecessor. Lamente-se, no entanto, que a maioria parlamentar não tenha confrontado a líder populista com a inoportunidade da sua iniciativa, que forçou o regresso a Lisboa dos ministros, secretários de Estado e parlamentares das reuniões em curso nas regiões afetadas, nas quais estavam a concretizar ações fundamentais para que se minimizem os efeitos ali verificados.
Com o discurso de Oliveira do Hospital, e apesar de saber de antemão que a ministra da Administração Interna estava para deixar o governo, Marcelo quis mostrar que, parafraseando um célebre sketch do Herman, ele é que era o verdadeiro «presidente da Junta». Hábil na antevisão dos acontecimentos políticos, falhou ainda assim no cálculo quanto ao sucesso das manifestações de sábado. Daí a ter de voltar a revelar-se contemporizador com as decisões do governo foi um passo natural. Mas como não consegue conter-se no que tem de atávico, cuidou de se valorizar ao dizer que os deputados deveriam seguir-lhe os passos visitando quem perdeu familiares ou bens na recente tragédia do dia 15. No entanto, ele sabe bem demais que outra coisa não têm feito os deputados da maioria parlamentar, que vêm passando os últimas dias por todo o norte, sem porém terem as televisões a seguir-lhes os passos para assim o demonstrarem perante o país. Também nisso a manipulação televisiva tem sido eficiente para dar mais mérito a Marcelo do que ele merece…
Uma palavra enfim para um morto-vivo, apostado em voltar a sair da cova política onde já o julgávamos morto e enterrado: Paulo Morais. A respeito das verbas angariadas pela Caixa Geral de Depósitos e pela Gulbenkian para as utilizar em prol das vítimas dos incêndios, veio fazer o conhecido número da «virgem escandalizada» por as estarem a direcionar para o Serviço Nacional de Saúde. Ao que levou o devido troco: num dos itens do protocolo entre as duas entidades estava prevista a afetação de uma parte dessas verbas ao reforço da capacidade de emergência e de pós-emergência do SNS face ao inesperado esforço financeiro a que se viu sujeito. Se isso não é apoiar as populações, o que será afinal?
Temos assim uma oportunista a querer parecer séria, um manipulador a pretender dar lições de moral a deputados e um vigilante a querer que se voltem a dele lembrar. Convenhamos que dos três só Marcelo consegue ir acumulando sucessos nesse esforço em demonstrar que é quem efetivamente está longe de ser...
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