sábado, 28 de outubro de 2017

Uma República quixotesca face a uma Monarquia de pés de barro

1. Não deixa de ser paradoxal que a União Europeia prove na Catalunha o tipo de veneno por ela estimulado na Ucrânia: há nos catalães a intenção de replicar na sua capital o tipo de estratégia seguida na praça Maidan, de Kiev, e cujos bons resultados vieram a ser lestamente reconhecidos por quem, de fora, os fomentou. Será presumível que, muito proximamente, Bruxelas e Berlim venham a ser confrontadas com a questão de persistirem no não reconhecimento da nova República. Porque, embora conheçamos de sobra a sua lógica de dois pesos, duas medidas, o alinhamento com o pós-franquismo de Rajoy poderá vir a confrontar-se com uma indomável reação popular. E, perante, a evidência dos factos, quererão perder a continuidade geográfica, que tanto ambicionaram estender entre a costa atlântica e as fronteiras russas?
2. Tem sido curiosa a fundamentação de quem, entre nós, contesta o direito dos catalães a possuírem o seu Estado, invocando os custos consequentes para o nosso país. Uma vez mais temos a comprovação da lógica indecorosa de quem põe os princípios de lado em prol dos números das folhas de excel.
Colocando-nos, porém, nessa perspetiva, será assim como dizem? Ou o impacto nas exportações portuguesas para Espanha pouco efeito negativo terá, porquanto só 10% delas são direcionadas para a nova República? E, se quisermos ser ainda mais cínicos, quantos turistas vocacionados para visitarem o turbulento país vizinho preferirão o nosso tépido inverno português?
Embora este tipo de argumentação seja politicamente incorreta, está ao nível dos que gritam «aqui d’el-rei Filipe!» com medo de que o céu lhes caia em cima!
3. Há quem pegue nas palavras de António Costa a respeito da posição diplomática de defesa da integralidade da Espanha e do respeito pela Constituição pós-franquista para demonizar os socialistas, que se sentem solidários com os catalães.
O que esperavam? Com tantos problemas por resolver achariam que o governo poderia arriscar um conflito internacional dissociando-se do posicionamento dos demais países da União Europeia?
A posição mais interessante é, a tal respeito, a de Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, que afirmou: “Espero que o Governo espanhol favoreça a força dos argumentos e não os argumentos da força.” Ou seja, Rajoy que se prive de avançar com blindados e comandos para Barcelona sob pena de ver em risco o apoio de que ainda dispõe nas chancelarias. O que lhe deixa um problema complicado de resolver. Como impor a lógica castelhana se o apoio popular à nova República se mantiver tão forte nas ruas como até aqui?
Nesta altura até os mais entusiastas apoiantes de Rajoy deverão estar a fazer contas à cabeça até que ponto a arrogância dele não causou maior dano do que se tivesse acautelado negociações, mesmo que difíceis, para impedir que se dessem passos tão acelerados em direção a uma tendência histórica, que dificilmente será revertida.



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