Dirão os meus amigos marcelistas, que pareço ter uma obsessão pelo inquilino do palácio de Belém não perdendo nenhuma oportunidade para lhe cortar na casaca. Mas, depois da declaração ao país lida esta noite fica alguma dúvida sobre a falta de qualidades do referido titular para se considerar o mais alto magistrado da nação, o presidente de todos os portugueses?
Uma das características exigíveis a um Presidente digno desse nome é ter a gravitas, no que isso significa de contenção na expressão e rigor no que diz. Será que o país merece ter em tal função uma espécie de menino da lágrima, mais preocupado em parecer demonstrar o que lhe vai na alma do que em assumir-se como um homem probo e capaz de se revelar um líder à medida da tragédia por que passa o país? Alguém que finge desconhecer as causas conjunturais e estruturais explicativas do sucedido e contra as quais demorarão anos a amortecer-lhes os efeitos?
Perante a dimensão do sucedido não era hora de exigir a unidade de todas as forças políticas e instituições para que, em conjunto e sem reservas mentais se cuidasse do essencial nesta altura: enterrar os mortos e cuidar dos vivos? Ou, pelo contrário precisamos de um presidente alinhado com uma fação oportunista, que repete o aproveitamento necrófilo das vítimas para, em cima dos seus túmulos, alcançar ganhos políticos?
Marcelo confirma o que, desde início dele se sabe: por muito que tente contornar as tendências no ADN, como dissociar-se de ser filho e afilhado de quem foi? Merece o Portugal de Abril ver-se representado por quem confirma portar-se como o herdeiro de quem o sempre quis asfixiar? Ou esquecemos de que lado ele sempre esteve, quando nos tempos da ditadura os estudantes da sua Universidade enfrentavam os gorilas e os pides?
Com o ultimato ao governo, e a óbvia determinação para que a vontade do CDS seja cumprida, Marcelo demonstrou incontornável parcialidade. Não é que as esquerdas desconhecessem quem teriam de enfrentar, quando com papas e bolos - na sua versão atualizada de abraços e selfies - logrou chegar onde o temos de suportar. Mas seria estúpido se, atempadamente, socialistas, comunistas, verdes e bloquistas não começassem desde já a pensar numa alternativa forte, capaz de o apear do cargo ao fim deste mandato. É que, hoje, ficou bem claro o que faria Marcelo se já contasse à frente do seu partido com quem ajustasse o golpe capaz de devolver as esquerdas para a manietada oposição ao governo do seu agrado.
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