Voltando ao discurso de Marcelo Rebelo de Sousa no dia 5 de outubro - que só os partidos das direitas terão apreciado! -, vale a pena recordar que ele previra o surgimento de um novo ciclo político depois destas autárquicas. Emitida há ano e meio essa premonição tinha mais a ver com os desejos do então recém empossado presidente do que com a realidade dos factos: embora acreditasse na resiliência da maioria parlamentar das esquerdas, pressupunha a impossibilidade de a ver subsistir após a agudização das contradições, que entre elas teriam obrigatoriamente de surgir nesse prazo. Marcelo confortava a frustração de suportar um governo bem mais à esquerda do que desejaria com a ilusão de ver reposta a normalidade com um novo centrão mais a seu gosto.
Que se enganou redondamente demonstrou-o no agastamento evidente do discurso em causa. E se as eleições desta semana abriram um novo ciclo político, ele nada tem a ver com a solidez da solução governativa, que se mantém inexpugnável aos contínuos ataques de uma imprensa mais do que adversa. O problema está no principal partido de oposição, que se vê tão condenado a uma longa travessia no deserto, que os seus nomes cimeiros escusam-se a enfrentar Rui Rio, o único a perfilar-se como sucessor da inábil liderança passista. Montenegro ou Rangel adivinham quão impossível é a missão do ex-autarca do Porto e resguardam-se para melhor ocasião. Falta só saber se Santana Lopes vê a sua reflexão terminar de forma diferente de como esse esforço mental lhe costuma resultar: o de também dizer «passo».
Marcelo arrisca-se a passar este mandato como um general sem exército, condenado a passear as dragonas sem justificar o sentido, que julgava encontrar na sua investidura para Belém.
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