Agora que o governo já aprovou um ambicioso plano de medidas para prevenir e combater mais eficazmente os fogos florestais, merecedoras dos encómios de Marcelo Rebelo de Sousa e dos parceiros (sê-lo-ão ainda?) do PPD/PSD, e que as manifestações convocadas para todo o país com o alto patrocínio da SIC resultaram em clamorosos fiascos, que restará a Assunção Cristas para defender a oportunidade da sua moção de censura?
Prosápia não lhe faltará quando a justificar na sessão parlamentar, mas como evitará a vergonha por que passará, quando lhe recordarem o oportunismo da iniciativa e, sobretudo, o tê-lo feito no primeiro dia de luto nacional?
Quando era necessário unir todo o país sem olhar a partidos políticos - tal era a dimensão da tragédia! - ela mais do que confirmava estar na política por exclusivo interesse da sua ínfima corte esquecendo-se dos deveres para com toda a nação enlutada. Insistirá Nuno Magalhães em atribuir os mortos de Pedrógão e do fim de semana de 14 e 15 de outubro a António Costa, acusando-o explicitamente de homicídio ou terá a contenção, que já alguns dirigentes centristas andam a demonstrar, criticando a líder por se julgar assim uma espécie de Lucky Luke, apostada em disparar mais rapidamente do que a própria sombra?
O acontecimento clarificador deste momento político foi de facto o sábado de todas as manifestações. Conseguissem os organizadores congregar muitos milhares de ingénuos (a SIC chegou a anunciar 42 mil pessoas para o Terreiro do Paço!) e teríamos uma agudização aprofundada entre as esquerdas de um lado e as direitas do outro. Cristas, e quem colaborava nessa estratégia, antevia a possibilidade de martelar os espectadores dos telejornais com a evidência da «fragilidade» do governo, preparando o terreno para a possibilidade de Marcelo Rebelo de Sousa dissolver a Assembleia tão só decidida a pugna no seu partido. Bastaria que até ao Congresso laranja essa manipulação das consciências fosse bastante para que o PS infletisse nas sondagens, o verniz estalasse com os partidos à esquerda e o novo líder da oposição visse alavancada a sua relevância como uma espécie de D. Sebastião vindo de Alcácer Quibir para salvar o Quinto Império.
Felizmente que, apesar de diariamente sujeitos à desinformação dos vários canais televisivos, os portugueses não se estão a deixar enganar tão facilmente quanto esperavam os inimigos da maioria parlamentar. E sintoma disso foi a mudança do discurso de Marcelo: muito hábil a interpretar os sinais emitidos pelo eleitorado logo cuidou de se colar às medidas aprovadas pelo governo porque, ciente de continuar sem nada poder contra ele, adota a manhosa atitude de se apresentar como corresponsável do sucesso por elas conseguido no futuro a prazo.
Será, pois, interessante assistir ao debate aprazado para amanhã. E não sobram dúvidas que Cristas sujeitar-se-á a memorável tareia com o PSD a olhar para o lado.
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