Não concordando com a visão atlantista de Teresa de Sousa vale a pena ir-lhe acompanhando os textos no «Público» para aferirmos o pensamento de uma corrente da intelligentsia, que se revê particularmente numa visão eurocêntrica e assumidamente capitalista. Em «O PSD tem futuro, o PCP não tem» ela revela a costumeira atitude desse setor de tomar os sonhos por realidades, por muito que estas ganhem uma particular contundência, pondo em causa a exequibilidade daqueles.
Partindo do diagnóstico crítico sobre o atual estado das democracias europeias, ela explica-o em função da crise financeira e do euro, que terá gerado graves problemas identitários na União sedeada em Bruxelas. Curiosamente a autora esquece-se de referir o afluxo de refugiados como uma das causas determinantes no crescimento das extremas-direitas em países onde não existia um Partido Comunista como o nosso, capaz de concentrar em si a maioria dos que contestam o capitalismo e a globalização.
A recente derrocada do PSD é por ela explicada no facto de Passos Coelho ter chegado à liderança como marionete dos setores apostados em romper com o centrão e desejosos de imporem uma orientação definitivamente liberal. Ou neoliberal, para ser mais preciso, pois não era outro o projeto de ir muito para além do imposto pela troika.
Teresa de Sousa parece convencida de que a inflexão laranja para os rumos anteriores a Passos Coelho voltará a dar-lhe a relevância tida noutros tempos, quando competia com o PS quanto ao título de maior partido nacional. Algo que estaremos para comprovar tão desorientados parecem os dirigentes e os militantes laranjas quanto ao trilho por onde pretendem reencaminhar o seu partido.
Quanto ao PCP Teresa de Sousa incorre no habitual erro de lhe anunciar a morte definitiva, quer aja contra o Partido Socialista, quer com ele replique o acordo estabelecido em novembro de 2015. Contrariamente a tal perspetiva, o PCP tem revelado uma notável resiliência aos dissabores dos últimos anos. E ainda bem, porquanto é organização bem mais respeitável e previsível do que os populistas de extrema-direita, que conseguiram chamar a si muitos dos pretéritos votos dos partidos mais à esquerda em França. em Itália, na Alemanha ou em muitos dos antigos países do Bloco Leste.
Fez bem António Costa em minimizar os resultados menos bons do PCP nas eleições da semana passada, direcionando as atenções para os que atingiram o PSD. Ao contrário de Teresa de Sousa espero que o PCP tenha muito mais futuro que o PSD. Porque se um já existe há quase cem anos e cumpriu com brio o desígnio de combater o fascismo, o outro surgiu no pós-25 de abril para, oportunisticamente, cumprir a missão histórica de conter as aspirações dos portugueses a um futuro mais justo e igualitário. Se historicamente devemos muito a um, ao outro só podemos imputar os malefícios da sua polémica existência.
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