Dos textos de opinião inseridos na edição de hoje no «Público» há três que me chamaram particularmente a atenção, por quanto neles podemos intuir ou recordar.
O primeiro é do seu jornalista Manuel Carvalho, que tem andado dois anos seguidos a zurzir no governo de António Costa, não conseguindo iludir os amargos de boca, que ele lhe suscita. Depois de ter alinhado na expetativa quanto á vinda do Diabo e dificilmente dando o braço a torcer, ei-lo a carpir-se pela falta de alternativa das direitas, perante a possibilidade da liderança do PSD ficar entregue a Santana Lopes ou a Rui Rio. Insultando António Costa acusando-o de ilusionista e o próprio país por se ver como um oásis, ele solta sentidos ais perante o seu desencantado futuro: “Venha quem vier, a menos que apareça ao virar da esquina um militante inesperado com necessidade de fazer a revisão de um carro, o PSD terá pela frente uma enorme dificuldade em bater-se com um PS colossal. Passos estava condenado a transformar-se num saco de boxe eleitoral, porque foi incapaz de provar que havia um diabo para demolir a aura de Costa, um mestre imbatível no ilusionismo político. Não se vislumbra como poderão Rio ou Santana contornar esse trunfo que faz o país regressar aos tempos do oásis. Porque, mais do que competência ou gravitas concedida pelos cabelos brancos, a política em Portugal requer nestes tempos dados ao facciosismo um pouco mais de rasgo, de imaginação, de intuição, de brilhantismo e de novidade. Condições que nem Rui Rio, nem Santana Lopes parecem ser capazes de garantir. Eles são homens da geração dos fundos estruturais, não líderes do Portugal que se insinua nos dilemas do pós-troika.”
Já o texto de Francisco Louçã - que também comenta o iminente desafio no maior partido das direitas - é mais curioso por outra razão: depois de António Costa ter vindo relativizar aquilo que alguns quiseram ver como uma grande derrota do PCP nas autárquicas, é o ex.líder do Bloco de Esquerda a apresentar o argumento irrefutavelmente mais sólido: “mesmo nestas eleições autárquicas, o PCP tem 490 mil votos nas câmaras, o que é muito mais do que nas legislativas (445 mil; ou nas presidenciais, 180 mil). Se acho estranho que o PCP esteja a castigar a percepção dos seus resultados por razões de questiúnculas partidárias (…) os números dizem tudo sobre a sua permanente força municipal.”
Concluamos a referência aos textos de opinião do «Público» com o da lavra de Rui Tavares que, aborda a questão catalã, mas lembra sobretudo uma relevante curiosidade histórica: “houve um tempo em que na nossa península nasceram os que podem ser considerados os três maiores sábios das três grandes religiões do livro. Dois deles em Córdova: primeiro o muçulmano Averróis, nascido em 1126, filósofo da ciência, da tolerância e da educação - incluindo a educação das mulheres; logo depois em 1135 o judeu Maimónides, médico, filósofo e autor do livro com um dos mais belos títulos jamais imaginados, o Guia para Perplexos. O terceiro nasceu nas ilhas Baleares, talvez em 1315: era o cristão Ramon Llull, matemático, viajante, diplomata e autor de uma novela mística na sua língua materna catalã, o Llibre de meravelles (Livro de Maravilhas, em português — esta gente tinha talento para títulos).”
Sem comentários:
Enviar um comentário