1. Temos por diante dois meses de atenta observação daquela que Pacheco Pereira já prevê vir a ser uma das campanhas mais suja, feita de golpes baixos e muitas fake news, até se definir quem virá a suceder a Passos Coelho: se o «menino-guerreiro» se o promotor de rallies em ambientes urbanos. Curiosa é a saída de cena dos mais intrépidos paladinos da austeridades atroikada, devolvendo o palco a quem o ocupava há nove anos, quando Manuela Ferreira Leite ganhou a Passos Coelho e a Santana Lopes, com Rio de fora por ainda estar à frente da Câmara do Porto.
Se se esperava renovação nas hostes laranjas, está prometido um prato mais do que requentado.
2. O maior problema que pode vir a colocar-se aos que almejam pelo regresso do passismo, mesmo que sob as vestes de Montenegro, é a perda de influência dos que, a nível da União Europeia, defenderam com entusiasmo as «reformas estruturais», que significaram o crescimento exponencial da precariedade do emprego. A comissária de Bruxelas incumbida das questões relativas ao emprego, distancia-se ostensivamente da cultura ali criada pela equipa de Durão Barroso ao reconhecer como, dos 5,5 milhões de empregos criados em todo o espaço europeu desde 2012, quatro em cada cinco foram do tipo temporário ou part-time e extremamente mal pagos.
Infletir essa política, retomando alguma regulamentação às contratações coletivas e à generalidade das legislações laborais, passou a ser um imperativo para que a União não perca competitividade porquanto o que beneficia os bolsos dos patrões não coincide com os benefícios do conjunto das respetivas sociedades. Daí que não se adivinhem dias muito prósperos aos que viram agora partir Schäuble, como se se tratasse do enterro de um pai muito querido. Na realidade é pela sua paixão austeritária, que carpem lágrimas sentidas.
3. No «Diário de Notícias» a jornalista Fernanda Câncio constata que foram muitos os textos, publicados por estes dias nos mais variados jornais, a elogiarem a «coragem» de Passos Coelho e o «serviço» por ele prestado ao país para o resgatar da bancarrota que, com o chumbo do PEC IV, ativamente precipitou.
É um problema que tarda em resolver-se: a nossa imprensa está maioritariamente ocupada por quem foi formada nas Universidades por “gurus” da estirpe de um César das Neves e de um Braga de Macedo, que insistem em ver sinais de recuperação neste moribundo capitalismo.
Os nossos «jornalistas» de economia nem sequer se ajustam á conhecida fórmula de só serem competentes para explicarem porque os resultados práticos das políticas em nada coincidem com as laboriosas previsões em que se terão empenhado. No Segundo Caderno do Expresso ou nos jornais económicos em papel ou online insistem em negar a evidência dos números e apreciá-los como se significassem o contrário do que demonstram.
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