Na edição de hoje do «Público» podemos ler Francisco Louçã a abordar os perigos do sectarismo.
É bom que o faça e seja entendido pelos seus principais destinatários: os comunistas que, por estes dias, andam muito zangados com quem acusam de os terem caluniado, mas se escusam a proceder à devida autocrítica, que os levaria à evidência de terem sido os seus atos e omissões a constituírem as verdadeiras razões para os resultados insatisfatórios colhidos nas autárquicas.
Mas Louçã pode lembrar, igualmente, o ditado sobre o frei Tomás, que mandava olhar para o que dizia e não para o que fazia. É que, no respeitante ao sectarismo, o Bloco também tem uma história que não pode esquecer, mormente na época em que serviu de instrumento à direita para que o governo de José Sócrates visse abreviado o seu fim. Os discursos parlamentares do próprio Louçã serviram, e muito!, de abertura de alas para que Passos & Portas viessem cumprir o desígnio para eles atribuído por quem, a nível interno, cultiva ideário semelhante ao da alt-right norte-americana.
Felizmente, e após a quase cisão entre os que provinham do trotsquismo e os da UDP, o Bloco pareceu ganhar juízo e curar-se daquilo que Lenine designou como característico de uma doença infantil. Ainda que aqui e além se vejam alguns retrocessos momentâneos! Já o PCP deverá regressar aos seus clássicos e perceber como tem sido o seu não declarado frentismo de esquerda, que viu abrir-se o espaço para a resiliência em circunstâncias novas, que desafiam a sua ortodoxia e o impelem para um restyling mais eficiente.
Nas páginas do mesmo matutino também não deixa de ser interessante a pertinente tese de Pacheco Pereira sobre a angústia dessa mesma alt-right nacional, que tem no «Observador» o seu veículo comunicacional mais notório e vê a possibilidade de o PSD fugir-lhe ao controlo.
Existe, de facto, uma organização consistente de gente dessa direita ultraliberal, que ganhou espaço nas universidades, nos meios de comunicação e nas redes sociais, e anseia por virar de pantanas os equilíbrios sociais estabelecidos nestes quarenta e três anos de Democracia, mesmo traduzidos numa distribuição inaceitável de direitos e rendimentos entre a maioria da população e a minoria plutocrática, que tem usado o Estado em seu proveito para, através da banca, abocanhar o quinhão mais significativo da riqueza nacional. Foi essa gente quem andou a criar mitos como os dos privilégios excessivos dos reformados e dos funcionários públicos em comparação com os da maioria dos contribuintes nacionais, sem mostrar a mesma preocupação com quem enriqueceu à conta dos amigos colocados estrategicamente nas administrações dos bancos públicos ou privados.
Essa ultradireita sabe que Rui Rio não poderá satisfazer-lhes os intentos, por muito que, ideologicamente, tenha grandes convergências, sobretudo nas questões (i)morais. Por isso desespera por encontrar quem, a exemplo de Passos Coelho, lhe sirva de eficiente marioneta com que possa contar para futuros combates políticos.
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