A noite de ontem trouxe a confirmação do que já se adivinhava desde domingo: depois de muito apostar na continuidade à frente do PSD, Passos Coelho conclui não ter condições para continuar. No seu íntimo estará a angústia quanto ao que lhe restará fazer quando, aos 53 anos, não tem grande empregabilidade dado o seu fraco currículo académico e profissional. E se, em tempos idos, Sertório, constatava que Roma não perdoava aos assassinos dos seus generais, a atualidade tem sido fértil em exemplos de ingratidão dos mais ricos por quem se aprestou a servir-lhes de marionete e não soube ser tão eficiente na defesa dos seus interesses, quanto desejariam.
É claro que já se fala na possibilidade de o vermos apainelado no leque de comentadores da SIC (olha a admiração!), mas por quanto tempo haverá mercado para lhe ouvir as sempiternas manifestações de agastamento com a suposta injustiça com que a História o tratará?
Agora é a altura de surgirem os candidatos à liderança das direitas com a curiosidade de ela se ver ameaçada nas canelas pelo atrevimento de Cristas, que facilmente se imaginará com potencial bem maior do que as suas capacidades e competências garantem. Nenhum dos putativos nomes entretanto sugeridos nas notícias gostaria de se chegar agora à frente, porque sabe encontrar todo o aparelho, incluindo o grupo parlamentar armadilhado pelo predecessor. A exemplo das dificuldades sentidas por António Costa até às eleições legislativas de 2015, o futuro líder laranja não terá a tribuna parlamentar para se afirmar. Mas Rui Rio, o mais óbvio, sabe inadiável o desafio, porque a espera de 2019 significaria não ter assento parlamentar até 2023, altura em que a idade, demasiado avançada, o tornaria ainda mais obsoleto do que já é.
Paulo Rangel tem inteligência bastante para adivinhar o risco de vir a ser um mero líder de transição, tão previsível se torna uma grande vitória socialista em 2019, mas também ele sabe quão improvável venha a ser a passagem deste autocarro pela mesma paragem em próximas oportunidades.
Santana Lopes vai repetindo o seu número de se dizer em reflexão para recuar em devido tempo: o lugar de Provedor da Santa Casa é demasiado apetecível para dele prescindir, tanto mais que, à sua pála, encheu a instituição de companheiros de partido cujo futuro ficaria em causa se o lugar viesse a mudar para alguém de cor política diferente. Daí que essa corte o aperreie para que não ponha em causa as situações de conforto em que se instalaram.
Falta Montenegro, mas esse já disse não ir a jogo. Arrivista inteligente, ele sabe o quão cedo ainda é o chegar-se à frente. De avental vestido ele e os confrades esperarão pelo provável estatelanço de 2019 para virem à luz dizerem-se presentes.
Podemos, por ora, descontrair: não será previsível que das direitas venham grandes ameaças à dinâmica da atual maioria parlamentar para continuar a brindar os portugueses com uma política que, maioritariamente, reconhecem ir ao encontro dos seus interesses.
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