Esta vaga de fogos, que destruíu uma boa parte da cobertura vegetal do norte do País, tem gerado dois tipos de reações extremadas: uns encaram-na como normal e acusam o governo de não ter prevenido tragédias nem ter investido meios bastantes para as combater; outros veem mão criminosa em quase todos eles como reação da direita revanchista contra os sucessivos desaires eleitorais por que vai passando. Os primeiros valem-se das televisões cujos repórteres quase obrigam os entrevistados a queixarem-se de falta de meios como forma de enfatizarem as críticas ao governo e secundarem as direitas, que puseram espumante no frigorífico para comemorarem quando António Costa lhes entregar a cabeça da ministra. Os segundos vão combatendo esse terrorismo mediático ripostando à medida das suas capacidades nas redes sociais.
Uma análise serena manda reconhecer que estamos numa daquelas situações em que a ocasião faz o ladrão: os humores meteorológicos, que têm fustigado o continente com uma seca extrema, tornam facilmente combustível toda a vegetação despojada de qualquer humidade. Basta assim que os mal intencionados e os tarados lhes cheguem ignitor para que um incêndio ganhe grandes proporções e logo se alavanque para situações incontroláveis.
Poderia o governo fazer melhor na sua atuação? Só os intelectualmente desonestos podem defender que sim. Não está nas capacidades de António Costa ou da ministra Constança, a ordem aos céus para dele ver descarregado um manancial de águas que tanta falta andam a fazer aos devastados campos. Só quem não quer ver os efeitos do aquecimento global pode persistir na sanha contra quem apenas se limita a investir em mais meios, como se duplicando-os ou decuplicando-os pudesse evitar que o fogo perdesse a sua força incontrolável.
As tragédias deste ano só tornam incontornável uma política de reflorestação, que não volte a permitir a plantação de árvores apenas na lógica do lucro a curto prazo, trocando-a pelas que melhor se adaptem às condições climáticas atuais, presumivelmente agravadas com a falta de políticas globais de combate às ameaças iminentes. Terá de se refletir em formas eficazes de mudar o interior, seja repovoando-o com populações mais jovens que aí possam encontrar empregos viáveis, seja aceitando a sua transformação em vastos parques nacionais devidamente organizados para prevenirem sinistros desta dimensão e criarem acessos ao seu combate, quando eles efetivamente ocorrerem. Nenhuma dessas opções políticas se concretiza em um ou dois anos: tem de ser seriamente pensada nesta altura e concretizada em plano estruturado com ações faseadas a curto, médio e longo prazo. Com um custo, que nem se pode imaginar quanto comportará para a nossa condicionada economia.
Fazer política séria é o oposto ao indecoroso aproveitamento dos mortos deste fim-de-semana, que voltarão a dar fôlego aos oportunistas que tanto exploraram os de Pedrógão Grande. Vale-nos que as direitas, responsáveis por esse comportamento, são corredores de velocidade, que depressa esgotam as energias depois dos sprints consequentes a estas ocorrências. Quanto a António Costa continua a demonstrar ser o corredor de fundo, ciente de saber dosear os recursos à justa medida das metas, que quererá alcançar. Aquelas que verdadeiramente interessam aos portugueses.
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