segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A necessidade de uma análise séria sobre os incêndios

Esta vaga de fogos, que destruíu uma boa parte da cobertura vegetal do norte do País, tem gerado dois tipos de reações extremadas: uns encaram-na como normal e acusam o governo de não ter prevenido tragédias nem ter investido meios bastantes para as combater; outros veem mão criminosa em quase todos eles como reação da direita revanchista contra os sucessivos desaires eleitorais por que vai passando. Os primeiros valem-se das televisões cujos repórteres quase obrigam os entrevistados a queixarem-se de falta de meios como forma de enfatizarem as críticas ao governo e secundarem as direitas, que puseram espumante no frigorífico para comemorarem quando António Costa lhes entregar a cabeça da ministra. Os segundos vão combatendo esse terrorismo mediático ripostando à medida das suas capacidades nas redes sociais.
Uma análise serena manda reconhecer que estamos numa daquelas situações em que a ocasião faz o ladrão: os humores meteorológicos, que têm fustigado o continente com uma seca extrema, tornam facilmente combustível toda a vegetação despojada de qualquer humidade. Basta assim que os mal intencionados e os tarados lhes cheguem ignitor para que um incêndio ganhe grandes proporções e logo se alavanque para situações incontroláveis.
Poderia o governo fazer melhor na sua atuação? Só os intelectualmente desonestos podem defender que sim. Não está nas capacidades de António Costa ou da ministra Constança, a ordem aos céus para dele ver descarregado um manancial de águas que tanta falta andam a fazer aos devastados campos. Só quem não quer ver os efeitos do aquecimento global pode persistir na sanha contra quem apenas se limita a investir em mais meios, como se duplicando-os ou decuplicando-os pudesse evitar que o fogo perdesse a sua força incontrolável.
As tragédias deste ano só tornam incontornável uma política de reflorestação, que não volte a permitir a plantação de árvores apenas na lógica do lucro a curto prazo, trocando-a pelas que melhor se adaptem às condições climáticas atuais, presumivelmente agravadas com a falta de políticas globais de combate às ameaças iminentes. Terá de se refletir em formas eficazes de mudar o interior, seja repovoando-o com populações mais jovens que aí possam encontrar empregos viáveis, seja aceitando a sua transformação em vastos parques nacionais devidamente organizados para prevenirem sinistros desta dimensão e criarem acessos ao seu combate, quando eles efetivamente ocorrerem. Nenhuma dessas opções políticas se concretiza em um ou dois anos: tem de ser seriamente pensada nesta altura e concretizada em plano estruturado com ações faseadas a curto, médio e longo prazo. Com um custo, que nem se pode imaginar quanto comportará para a nossa condicionada economia.
Fazer política séria é o oposto ao indecoroso aproveitamento dos mortos deste fim-de-semana, que voltarão a dar fôlego aos oportunistas que tanto exploraram os de Pedrógão Grande.  Vale-nos que as direitas, responsáveis por esse comportamento, são corredores de velocidade, que depressa esgotam as energias depois dos sprints consequentes a estas ocorrências. Quanto a António Costa continua a demonstrar ser o corredor de fundo, ciente de saber dosear os recursos à justa medida das metas, que quererá alcançar. Aquelas que verdadeiramente interessam aos portugueses.



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