terça-feira, 31 de outubro de 2017

O que se comemora quinhentos anos depois?

Passando hoje os quinhentos anos da afixação das 95 Teses de Lutero na porta das Igreja do castelo de Wittenberg, que verdadeiramente se comemora? A glorificação de um homem inteligente, que execrava o comércio das indulgências pelo clero católico, com o devido beneplácito papal, ou o antissemita, que via nos judeus a personificação de algo de diabólico? O impulsionador da cultura de massas, mediante a tradução da Bíblia para língua vernácula, retirando estatuto ao sacrossanto latim, ou o defensor dos ricos, que achava justificadas as repressões das revoltas campesinas a ferro e fogo?
Ateu confesso tanto me sinto alheado dos ditames católicos como dos protestantes, ou de outra religião qualquer, mas compreendo a importância de uma revolução, que extravasou tudo quanto Lutero poderia pretender. Porque a emancipação dos príncipes germânicos da tutela de Carlos V impulsionou a criação dos Estados-nação, que tanto contribuiriam para a emergência do capitalismo da era Moderna. E como já se depreendeu a impossibilidade prática de passar diretamente de organizações sociais de tipo feudal para as de socialismo avançado - vide o sucedido na Revolução Bolchevique e na Revolução Chinesa - temos sempre de considerar a importância dessa fase intermédia entre o mundo aristocrático e o dos cidadãos livres e iguais entre si.
Lutero demonstra a esse respeito a incapacidade de algumas personalidades em entenderem a importância do papel, que desempenham, quando entram em rutura com os cânones estabelecidos. Podem imaginar os passos que darão a seguir, mas nem lhes passa pela cabeça os que a inércia do movimento poderá suscitar num mundo que pula e avança...

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