Voltando às eleições espanholas do último fim-de-semana, já pouco importa se os seus resultados foram ou não condicionados pelo Brexit que, segundo alguns, terá acentuado a tendência do eleitorado para manter “o que está” em vez de arriscar “o que poderia ser novo”
A verdade é que a direita no seu todo - ou seja somando o Partido Popular, o Ciudadanos, o Partido Nacionalista Basco ou os autonomistas das Canárias - dão 175 deputados, ou seja, exatamente metade da composição parlamentar. Ao contrário de António Costa em Portugal, Pedro Sanchez deixou de ter condições para assegurar uma maioria mesmo precária com que pudesse governar, restando-lhe, pois, ir para a oposição. O que até nem lhe é desfavorável, tanto mais que a derrota do PSOE na Andaluzia travará as aspirações de Susana Diaz em lhe tomar o lugar.
Mas o futuro imediato do líder socialista espanhol passará por consolidar o partido e recuperá-lo do pior resultado alguma vez por ele conseguido desde a recuperação da Democracia. O que significa fazer uma oposição forte, determinada e bem sustentada em alternativas, que encostem o PP o mais possível às cordas. Mas já contando com a certeza de ser este o último mandato de Rajoy à frente do governo, porque reassumirá o cargo tão desgastado, que não conseguirá opor-se a uma nova geração de políticos ambiciosos e descomprometidos da corrupção, - o modo de vida dos seus companheiros mais velhos -, e por isso capazes de aparecerem ao eleitorado com a cara lavada de quem nada teve a ver com a “doença senil” do seu partido.
Sanchez não terá, pois, e tão só, de contar com o velho PP, mas com o que dele emergirá quando Rajoy sentir-se demasiado enleado nos seus constrangimentos e tentado a passar o testemunho a essa nova geração no propósito de iludir o eleitorado com a possibilidade de se tratar de algo de novo a contrapor a um PSOE, que apresentará como “mais do mesmo”.
Já imagino alguns dos barões a proporem à direção socialista uma aproximação ao tal centro, que ninguém sabe onde fica, mas alguns idealizam como a direção a tomar para se terem ganhos políticos. Esquecem que o eleitorado que vier a ser perdido pelo PP já tem um escoamento garantido para o Ciudadanos, esse sim condenado a afastar-se do centro para ganhar apoios à direita. Será, assim, natural, que o PSOE fique efetivamente no centro do xadrez político espanhol com o PP e o Ciudadanos de um lado, e o Podemos e a Izquierda Unida do outro.
Se fosse militante do PSOE apostaria num discurso assumidamente de esquerda, sem complexos, de forma a recuperar os que se deixaram agora seduzir pela inconsistência ideológica de Pablo Iglésias. É que o Podemos, tanto tendo prometido aos seus, também muito os terá desiludido com as exageradas reivindicações de que não quis abdicar um centímetro que fosse. E quem muito quis, muito perdeu. Proximamente até nem será improvável que muitos dos que se alinharam com o Podemos regressem à Izquierda Unida de Garzón, pelo que dever-se-á aproveitar os demais, porventura cativados pelo discurso renovado e substantivo do PSOE.
Como seus vizinhos ibéricos só podemos lamentar não termos no governo espanhol quem nos possa apoiar no esforço para contrariar a linha política dominante na União Europeia. Mas algum dia os socialistas e os sociais-democratas europeus hão-de atinar com a necessidade de ocuparem politicamente o espaço de uma direita e de uma extrema-direita sem soluções para os desafios económicos e sociais dos próximos anos. À custa de tantas derrotas algo terão de aprender...
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