1. O que aconteceu na manhã de domingo à porta do Congresso do Partido Social já nem suscita admiração, nem indignação. Os manifestantes, que ali foram causar ruído fazendo-se acompanhar de cartazes de indesculpável mau gosto, só expressaram o tipo de desespero dos que já estão derrotados e não encontram outra forma de libertar o fel, que não passe pelos insultos e desconchavos.
Se ainda poderíamos ter alguma complacência por algumas das suas razões, mesmo sabendo-as ilegítimas - o desemprego de professores desabituados a concorrerem em escolas públicas e provavelmente com currículos comprometedores é uma delas -, a forma como entraram numa deriva em que parece valer tudo para agarrar os privilégios da sua desprezível minoria, deixa-os sem qualquer perdão. Condenados sem pena suspensa é o veredito, que os espera…
2. No excelente programa de John Oliver, que pudemos ver esta semana na RTP3 - bem superior ao «Daily Show», mesmo quando liderado por Jon Stewart! - abordava-se um caso com grandes similitudes com os nossos colégios privados.
Nos Estados Unidos as equipas de futebol americano pertencem a interesses privados, mas que se financiam indecentemente com capitais públicos. Uma das estratégias de enriquecimento dos donos dessas equipas passa por exigir aos municípios a construção de novos estádios, alguns deles com pormenores luxuosos inacreditáveis como é o caso da equipa de Miami, que tem a toda a volta do recinto de jogo um gigantesco aquário.
Conseguidos os estádios com financiamento público, que depois falta às escolas e aos hospitais, todos os lucros com eles conseguidos são embolsados pelos donos dos clubes: o branding, as concessões para lojas e restaurantes, a publicidade, etc.
E os que se atrevem a rejeitar o ultimato dos donos dos clubes já sabem o que os espera: a ameaça para a sua deslocalização para outra cidade, senão mesmo outro Estado, de forma a pôr os políticos locais confrontados com a pressão dos adeptos, transformados em carne para canhão de uma guerra onde não têm a consciência de estarem a dar tiros em si mesmos.
A importância de cortar cerce estas reivindicações dos colégios - e ao elogiar Tiago Brandão Rodrigues no seu discurso de encerramento, António Costa reafirmou a firmeza com que lidará com este lobby - é fundamental para erradicar esta cultura dos privados tomarem os contribuintes por parvos dispostos a pagarem-lhes as extravagâncias. Um combate que na América será muito mais difícil de travar, por já estar tão banalizado esse “costume”.
3. Sei que daqui até às autárquicas muito evoluirá a economia portuguesa, que confiamos ver evoluir no sentido de maior crescimento económico, menor taxa de desemprego e défice abaixo dos 3% do PIB. Se tal suceder a próxima batalha eleitoral será relativamente fácil de travar, porque, mesmo considerando as diferenças entre os escrutínios locais e nacionais, aqueles acabam sempre por ser contagiados pelo estado de espírito da conjuntura coletiva.
Não olho, pois, para as declarações de intenções de António Costa ou de Jerónimo de Sousa nessa matéria como definitivas, mas muito gostaria que houvesse coligações da esquerda plural em todos os municípios que, de norte a sul do país e incluindo as regiões autónomas, isso significasse a substituição das vereações maioritariamente de direita pelas que encarnam o Tempo Novo.
É que do outro lado também se vão fazendo contas e olhando com esperança para o facto de, em outubro de 2015, terem conseguido resultados, que se replicados nas autárquicas, lhes garantiriam 178 municípios em vez dos atuais 108.
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