Imaginemos que já passámos o cabo dos 50 anos de idade, fomos despedidos do emprego anterior, estamos longe da reforma (que poderia constituir porto de abrigo!) e, por milagre, conseguimos arranjar colocação numa empresa acabadinha de lançar no palpitante mundo das novas tecnologias onde nos vemos rodeados de miúdos convencidos de serem génios e a olharem de soslaio para os cabelos brancos de quem ali faz figura de alienígena.
Foi isso que aconteceu a Dan Lyons, um conhecido jornalista da «Forbes» e da «Newsweek» para as quais acompanhara, com as suas reportagens ,todo o processo de criação e de desenvolvimento do polo económico de Silicon Valley.
Durante esses anos ele mantivera, igualmente, um blogue muito conhecido em que se fingia de Steve Jobs e transmitia os seus supostos estados de alma. Algo que o próprio criador da Apple considerara divertido.

Foi, pois, com um enorme suspiro de alívio que aceitou o convite de uma nova e mediática start up de Boston, que pretendia colorir o seu blogue com textos imaginativos e capazes de lhe aumentarem as vendas de programas informáticos.
A experiência durou apenas nove meses, porque o relacionamento com os colegas de trabalho - cuja média de idades era 26 anos! - não foi o melhor, vendo-se rapidamente segregado para um dos extremos do open space onde todos passavam o dia a procurar vender os seus produtos num autêntico serviço de telemarketing.
Se o que comercializavam tivesse qualidade, ainda vá, mas depressa Lyons compreendeu a sua mediocridade. Nessa altura, já da indiferença dos demais, passara a ser objeto de um insistente assédio moral destinado a fazê-lo despedir-se de motu próprio..
“Quando evoquei essa forma de pressão junto de um colega, ele disse-me: ’Todos fazem isso, até eu ando a apertar com um tipo para ver se o consigo mandar embora.’ Seis meses depois foi ele quem se viu despachado segundo esse método”.

Onde se pode ler, em jeito de conclusão: “subitamente, quando comecei a escrevê-lo, todo esse universo tornou-se-me mais esclarecedor: as start-up não chegam a ganhar dinheiro mas enriquecem os que as fundam e os especuladores financeiros, que nelas investem e lucram com a “bolha” que incha dia-a-dia. (…) Pus-me a entrevistar pessoas e um administrador muito conhecido confessou-me: ‘Todos sabemos que se protegem os investidores. Saca-se-lhes a massa e depois encontramo-nos num face a face quotidiano e desconfortável com os nossos assalariados.’”
Até a bolha rebentar, e muitos dos que foram iludidos a apostar nessas empresas de «sucesso» a perderem o seu investimento– Mas já, então, se andam a semear novos casos sensacionais de empreendedorismo, que voltem a encher capas e páginas inteiras das tais publicações económicas pelas quais muitos aprendizes de feiticeiros acabaram vítimas dos seus incipientes feitiços.
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