Imaginemos que, por hipótese, Nigel Farage ocupava o 10 de Downing Street em vez de David Cameron. Além de uma política seriamente restritiva aos emigrantes, que tem ele para oferecer como modelo económico ou programa político? Que se saiba nada de concreto para além da sua retórica simplista e sem substância.
Perante bancos que sigam o exemplo da Morgan Stanley e mudem os seus escritórios da City para Dublin ou para Frankfurt, que resposta pode dar aos que lhe deram os votos sob a promessa de, como dizia alguém numa das reportagens da SIC, fazer o Reino Unido voltar para o que era há vinte ou trinta anos atrás? Como se, por um passe de mágica, fosse possível fazer o tempo recuar para um qualquer passado de que sobram as nostalgias do que tinha de bom, sem lembrarem o que era profundamente negativo.
Cameron pode ficar para a História como Gorbatchov para a antiga União Soviética. E a tese não é minha, mas da minha cara metade, que já olha para a possibilidade de escoceses e irlandeses dizerem adeus a sua majestade real, e adotarem o modelo republicano, que tarda em atirar definitivamente as obsoletas monarquias para o tal caixote do lixo das coisas imprestáveis.
Boris Johnson também pode enfiar a mesma carapuça, porque tendo querido assumir o papel de feiticeiro, sem lhe conhecer verdadeiramente a «arte», parece agora atemorizado com a caixa de Pandora que ajudou a abrir. Por isso não quis falar aos jornalistas à saída de casa. Quando o fez, algumas horas mais tarde, procurou mudar a narrativa para a possibilidade de saída do Reino Unido da União Europeia … mas não para já!
É que, diferentemente de Farage, cuja demagogia só faz sentido para ganhar o estatuto de eterno oposicionista - com as convenientes mordomias dadas pelos assentos no Parlamento Europeu! - Johnson sabe que a demissão de Cameron põe-no no cimo da onda, sem prancha a que se agarrar. Desconhecendo verdadeiramente o que agora fazer.
Nesse sentido até será positiva a posição de Juncker a pressionar para uma saída rápida, ao contrário de Merkel, também ela intimidada com a situação, e disposta a avalizar uma implementação do resultado do referendo para o dia do São Nunca. É que vencer o referendo terá sido a tarefa mais fácil dos que defenderam o Brexit. O pior será agora, quando o quiserem aplicar à prática.
Mas esse deveria ser o castigo imposto a todos os populistas, se não fossem os danos que causariam aos respetivos povos!
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