É, de facto, surpreendente a forma como o PSD anda a considerar a defesa do interesse nacional: é precisamente numa altura em que as empresas de rating e a Comissão Europeia trazem a Caixa Geral de Depósitos debaixo de olho, num caso dificultando-lhe a capacidade em se financiar, no outro em se recapitalizar, que Montenegro anuncia aquilo que o seu governo nada fez por esclarecer nos quatro anos em que nos desgovernou.
Uma Comissão Parlamentar, nas condições em que ontem foi anunciada, constitui um prejuízo para a já problemática imagem do banco estatal, só podendo entender-se como uma forma de sabotagem ao projeto de o fortalecer e dele fazer o eixo agregador da recuperação do sistema bancário nacional.
É, pois, pela mais execrável politiquice, que o PSD pretende criar ruído em torno do que se passou num Banco por cuja nomeação dos Presidentes dos Conselhos de Administração se responsabilizou desde há muitos anos.
Quer isto dizer que devem passar impunes os atos de gestão causadores das imparidades justificativas de tão volumosa necessidade de recapitalização? Claro que não! Mas a prioridade manda olhar para o futuro, onde ainda é possível recuperar a instituição e torna-la motor de desenvolvimento do país. Colocar trancas na porta é mais urgente do que identificar quem e o que foi espoliado. Até porque esse não deve ser trabalho dos deputados, mas do ministério público que, muito provavelmente, se se dedicasse a casos com matéria criminal como os aqui provavelmente verificáveis, em vez de gastar recursos na inconsistente Operação Marquês, poderia alcançar uma maior taxa de sucesso. Sobretudo se viesse a identificar todos os créditos concedidos aos amigos para que ganhassem posições de influência noutros bancos privados.
Por muito que o pasquim matinal da Cofina queira afiançar o contrário, os portugueses estão bem mais interessados em olhar para a frente do que em deixarem-se atolar no passado onde os quiseram empobrecer e menorizar. Por isso a melhor frase de ontem no Parlamento foi a de António Costa, quando declarou aceitar o acordo de regime proposto pelo PSD: a direita trata da inconsequente arqueologia, que o governo da maioria parlamentar cuida do futuro dos portugueses.
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