Um dos mitos levantados pela direita nestes primeiros meses de governo socialista foi o da rapidez com que se esgotaria a fórmula de convergência de quatro ramos distintos da esquerda plural. Revertidos os cortes aos pensionistas e aos funcionários públicos, retomadas as 35 horas semanais a quem delas fora excluído e aumentado o salário mínimo, pouco faltaria para cumprir o acordo assinado em novembro pelos protagonistas da profunda mudança concretizada no cenário político português.
Ilusão da direita: os retrocessos verificados nos últimos anos foram tantos, que se torna difícil reparar-lhes os danos em tão pouco tempo. Ademais vão-se esclarecendo algumas intuições, agora mais concretamente demonstradas em estudos, como sucedeu agora com a questão da gestão dos hospitais públicos por entidades privadas, incapazes afinal de provar a superioridade das suas orientações.
Deixa, pois, de existir fundamento para transferir dinheiros públicos para entidades privadas nesse setor, tendo em conta que clarifica esse suposto empate de desempenhos o facto de existir a preocupação do lucro por parte dos privados, enquanto a gestão pública pode focalizar-se no seu objetivo maior: a melhoria progressiva da qualidade de serviços de saúde prestados às populações.
Apostar, assim, no aprofundamento dos benefícios já conseguidos no Serviço Nacional de Saúde irá causar muita contestação nos defensores do lema «quem quer saúde paga-a”. O que só justifica a preservação desta presente convergência das esquerdas para combater os interesses instalados, que vivem à custa das rendas proporcionadas pelo orçamento do Estado.
O que irá suceder no próximo sábado, quando muitos milhares de cidadãos encherem as ruas de Lisboa em defesa da Escola Pública terá de replicar-se proximamente quando se justificar reiterar a defesa do Serviço Nacional de Saúde ou a manutenção da Segurança Social na alçada do Estado.
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