A Convenção do Bloco de Esquerda aprovou uma proposta importante para o governo de António Costa, mas que este não pode assumir nesta altura: a possibilidade de convocar um referendo se a Comissão Europeia ainda venha a manter a prosápia de impor sanções a Portugal.
De facto, basta ouvir alguns telejornais noutras estações televisivas europeias para, frequentemente, vir a lume o nome de Portugal como um dos países com maior progressão do euroceticismo. No «28 minutes» da ARTE da passada sexta-feira era isso que um dos entrevistados manifestava como exemplo das dificuldades colocadas à União Europeia se prosseguir no rumo, que tem sido o seu nos últimos anos e causador da redução significativa dos seus apoiantes.
Nesta altura todas as vertentes da esquerda plural são fundamentais para o sucesso do projeto político liderado por António Costa no sentido de dar ao país um rumo concordante com as aspirações da maioria de quem aqui vive.
O Bloco consegue cativar o apoio da juventude universitária e cuja vontade de mudança pouco se coaduna com o maior realismo político do PS perante as muitas contingências externas e internas com que tem de lidar. E o PCP garante o apoio dos mais velhos, aqueles que lidam pior com os efeitos e, sobretudo, os falsos «fantasmas» da globalização e que tendem a engrossar nos outros países - França, Holanda, Alemanha e Inglaterra - as forças populistas da extrema-direita.
O que António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa tiveram a sageza de compreender foi como da união das suas fracas forças eleitorais poderia criar-se uma nova realidade política, com um enorme potencial para manter a direita na oposição por muitos e bons anos.
É claro que a macrotendência liderada por Francisco Assis tenderá a empolar o eventual efeito do sorpaso em Espanha, que poderá pasokizar o PSOE definitivamente. E verem corroborados os seus receios nas afirmações de alguns dirigentes do Bloco de Esquerda (vide a entrevista de Jorge Costa ao «Expresso» desta semana) em que põem como objetivo fundamental tornarem-se eleitoralmente mais fortes do que os socialistas.
Não faltarão, pois, vozes a reclamarem a falta de lealdade dos dirigentes do Bloco, quando fazem parte da maioria parlamentar. Até não me espantaria, que a direita fizesse desta questão um novo cavalo de batalha. Mas, como socialista, devo considerar ofensiva essa pretensão dos dirigentes bloquistas? Não, pelo contrário, até considero muito positiva a emulação competitiva entre os quatro partidos da “coligação de esquerda” para procurarem alargar a dimensão dos seus eleitorados. Só assim se conseguirá o objetivo mais ambicioso de reduzir significativamente o eleitorado da direita. É que há tanto a mudar em Portugal para se transformar no país desenvolvido e socialmente mais justo, por que esperamos desde abril de 1974, que reduzir a capacidade nociva da direita para travar essa dinâmica, só pode ser encarado como algo de estrategicamente muito positivo.
Como militante socialista desejarei que o PS seja mais forte e consiga prevalecer o seu projeto na sociedade portuguesa dos próximos anos. Mas se o Bloco ou o PCP começarem a ganharem-lhe eleitorado, que não seja compensado à direita - cujo eleitorado tem de ser resgatado para os valores de esquerda, que melhor possam defender os seus interesses! - só revelará uma incapacidade dos seus dirigentes para ouvirem os anseios dos portugueses e aferirem as suas propostas nessa justa medida. O que é entusiasmantemente interessante para a vida interna do Partido Socialista, que deverá aproximar-se bem mais das populações em vez de se manter cingido aos inconsequentes almoços e jantares dos que já se confessam seus fiéis, mas não conseguem interessar mais ninguém.
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