O Congresso do Partido Socialista tem correspondido ao que dele esperava: a consagração da matriz, que fundamentou a sua fundação, e apostada em políticas tendentes a criar, em liberdade, uma maior justiça social e um crescimento económico que a favoreça.
Foi esse programa, que justificou a minha adesão a ele há mais de trinta anos, muito embora nunca o tenha visto tão formatado para tal objetivo como atualmente. É que, com o socialismo posto na gaveta ou com o deslumbramento pela falaciosa Terceira Via, havia-se perdido algo da alma original agora cada vez mais reencontrada na atual maioria. Como militante a eleição de António Costa para secretário-geral nas Primárias de Setembro de 2014, devolveu-me o orgulho de contar com dirigentes, que não se envergonham por se considerarem politicamente à esquerda, não temendo perder assim o mítico eleitorado do «centrão», que as circunstâncias tendem a assemelhar-se ao tal Wally dos livros infantis, que tão difícil era de encontrar no meio da multidão.
O que Francisco Assis ou Sérgio Sousa Pinto - transformados em «heróis» nas várias televisões por darem voz à discordância da linha atual! - não querem perceber é estarmos perante tempos novos, que exigem respostas mais ousadas, diferentes das que costumavam sossegar os que temiam sair da sua zona de conforto intelectual.
Mas isso não me impede de considerar extremamente elogioso o comportamento voltairiano dos congressistas, que deram mostras de discordarem totalmente de tudo quanto Assis disse no seu discurso, mas o ouviram respeitosamente, quase sem nenhuns apupos. É que mantendo sérias dúvidas quanto à possibilidade de o voltar a ver enquadrado nos órgãos dirigentes do Partido - estaria assim a admitir, que esta opção identitária à esquerda teria sido episódica e não sustentável -, o mínimo que ele mereceu foi respeito no ato corajoso de, mesmo sentindo-se solitário entre tanta gente, ter tomado a palavra. Algo que não se viu noutros contestatários, que andam a preferir os ataques mais soezes nos jornais, que lhes dão guarida.
Fiquei, pois, satisfeito com a reconfirmação de António Costa como secretário-geral, Carlos César como presidente e de Ana Catarina Mendes como secretária-geral adjunta. Como considerei da mais elementar justiça a aclamação de António Arnaut como presidente honorário.
Foi bom ouvir o discurso de abertura em que António Costa considerou que o governo devolveu ao país o que lhe cabia de direito e que a ideia mais perigosa em democracia era a que tendia a fazer crer na impossibilidade de qualquer alternativa.
Confirmou-se que quem anda a dizer parvoíces do género de haver quem tem pena de não estar no Bloco de Esquerda em vez de se sentir plenamente no PS é uma minoria enquanto os visados com o «piropo» têm a simpatia da maioria dos militantes. Assim se compreendem as palmas vigorosas atribuídas a Pacheco Pereira, quando se insurgiu contra a soberania limitada dos governos europeus perante a obrigatoriedade dos orçamentos nacionais serem aprovados por Bruxelas.
Ao contrário dos europeístas incondicionais, os socialistas já assumem o distanciamento de assim se considerarem enquanto não forem ofendidos pelas decisões insultuosas de Schäuble e seus apaniguados do PPE. Porque, como dizia uma canção de Sérgio Godinho, “para melhor está bem, está bem. P’ra pior já basta assim!”.
Uma palavra final para Daniel Adrião, que deixou de merecer o meu apoio, quando a ele se colaram alguns oportunistas, entretanto desempregados do defunto segurismo, mas cuja intervenção no Congresso teve o condão de saudar José Sócrates, a quem muitos dos presentes não deixam de reconhecer como um líder injustiçado pelas circunstâncias em que concluiu o seu segundo mandato como primeiro-ministro e pela insidiosa campanha de que ainda não se conseguiu livrar.
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