A decisão da maioria do eleitorado britânico em sair da União Europeia cria uma tal imprevisibilidade, que não faltarão zandingas a prever os cenários mais diversos, desde os mais catastróficos até aos dos impenitentes eurófilos, que quererão ignorar a dimensão sísmica do abalo sofrido.
O mais desejável seria que acontecesse o desejo manifestado por Pacheco Pereira de o Brexit constituir um tal abanão, que levasse os Junckers, os Dijsselbloems, os Schäubles ou os Draghis a fazerem um exercício de consciência e compreenderem como conseguiram transformar um projeto desejado pela maioria dos povos europeus numa coisa pantanosa da qual são cada vez em maior numero os que dela se querem dissociar. A questão é a de se saber até que ponto serão capazes de fazerem essa introspeção com o mínimo de honestidade intelectual.
Mas o referendo permite já tirar duas ilações, que não se revelam muito compatíveis com o politicamente correto. A primeira é que espaços económicos, que se tornem particularmente atrativos para populações a ele exógenas, mas para o qual querem convergir, veem perigada a sua estabilidade política e, sobretudo económica, ao permitirem uma entrada demasiado acelerada desse tipo de imigrantes. Até porque eles surgem tão eivados de expectativas, que depressa se frustram que irão aumentar os índices de criminalidade, senão mesmo de terrorismo.
Muito embora a questão dos refugiados tenha de ser vista numa perspetiva humanitária - e os encarceramentos em guetos, como já se verificam em vários países europeus não correspondem a essa condição - também não pode ser ignorada no risco que constitui para as políticas, que faziam desses espaços geográficos o da justificada atratibilidade de quem nele não vivia.
A outra ilação a retirar deste Brexit é a facilidade com que, perante tão rápidas mudanças populacionais, os eleitorados votam com o coração e não com a carteira, porque quer Farage, quer Boris Johnson não apresentaram nenhum programa económico, que sustente as políticas subsequentes. De facto ninguém poderá imaginar como o próximo governo irá gerir as sequelas, que implicarão a perda de competitividade da economia inglesa num contexto em que ficará cingida à sua pequenez, sobretudo se os escoceses e os irlandeses anunciarem o dobre de finados pelo que era o Reino Unido.
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