1. Começam a surgir os primeiros indicadores económicos favoráveis ao governo e o que tem a direita a dizer? Que não são verdadeiros, antes uma mistificação a desmascarar-se até ao final do ano. Em suma, o normal para quem andou quatro anos a inventar as mais laboriosas formas de iludir os portugueses quanto ao fosso para onde os andava a precipitar, quase lhes querendo fazer crer num oásis ao virar da esquina.
Vale a pena recordar as fases por que tem passado a estratégia da direita nos últimos meses: primeiro foi a fase «eles nunca se irão entender, nem chegarão a formar governo». Depois dissram que se tratava de uma coligação de interesses tão inconciliáveis, que nem sequer duraria até à aprovação do primeiro Orçamento.
Superada essa batalha veio a do inevitável veto das instituições europeias aos documentos a elas submetidos pelo governo de António Costa, primeiro o do referido orçamento, depois o do Plano Estratégico para os próximos anos.
No entretanto, com a ajuda de situações especificas, mas que teimou em omitir - a manutenção da Refinaria de Sines e os dias de paragem da Autoeuropa - e com a ajuda do governador do Banco de Portugal, que atrasou e reduziu os dividendos a pagar ao Estado Português pelos lucros da instituição, quis dar o exercício orçamental como inviável face aos tratados orçamentais.
Agora que os indicadores confirmam as previsões do Governo a direita fica em pânico ao ver-se desmentida quanto ao défice, ao comportamento das exportações e dos investimentos e ao prometido desequilíbrio da balança comercial. E ela, que conseguiu falhar por oito vezes no seu quadriénio vendo-se obrigada a aprovar outros tantos orçamentos retificativos, sente-se sem pé num mar cada vez mais turbulento.
Para as próximas cenas da continuação do desempenho nesta enésima versão do «Pedro e o Lobo» poderá utilizar por mais uma semanas as prometidas sanções, que alguns quiseram agora dar como garantidas ao invocarem o respeitado jornal «Le Monde». Mas já será mais avisado, que mudem de disco, porque esse não tardará a revelar-se gasto. A sua esperança residirá agora nos efeitos negativos do Brexit na economia portuguesa. É que, tal como se apressaram a culpar José Sócrates da crise dos subprimes de 2008, também afiançarão que quem terá convencido os ingleses a saírem da União Europeia não foi outro senão António Costa cabendo-lhe a responsabilidade de todos dos efeitos subsequentes.
O que é extraordinário nesta direita é convencer-se de que os portugueses são parvos o suficiente para lhes voltarem a confiar a (des)governação do país.
2. Não são surpreendentes as notícias de episódios de racismo primário na Inglaterra do pós-Brexit, porque essa é a verdadeira natureza de uma caixa, que Cameron abriu, sem ter em conta todos os monstros que deixava à solta.
Acumulam-se as evidências de terem estado pelo «Leave» gente sem escrúpulos, apostada apenas em destruir a relação entre o Reino Desunido e a União Europeia, mas sem qualquer projeto para o que se vai seguir. Boris Johnson tem sido elucidativo no medo, que lhe causa agarrar o boi pelos cornos nesta altura. Por isso ouvem-se-lhe palavras a pedir tempo de preparação, que as instâncias europeias não estão dispostas a dar-lhe.
O mais fácil foi vencer o referendo, o complicado é saber como gerir-lhe as consequências. E é esse medo, que levará o antigo mayor de Londres a nem sequer se perfilar como candidato a Downing Street se vir que de Bruxelas não lhe dará abébias, abrindo assim espaço para uma primeira-ministra mais credível como o será Theresa May. Mas as agressões físicas e psicológicas por que muitos emigrantes têm passado nestes últimos dias serão uma pequena amostra dos riscos de violência, que eclodirão, quando a maioria dos que se sentiram vitoriosos na sexta-feira entender verdadeiramente o logro em que caiu.
Estão prometidos dias muito complicados para os que a turba de exaltados não identificar como genuinamente british. O Brexit está fadado para ser bandeira dos mais sinistros hooligans.
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