Dos mais recentes Congressos do Partido Socialista nenhum houve que se comparasse ao de Novembro de 2014, não só por consagrar António Costa como novo secretário-geral, mas também pelo inesquecível discurso de António Sampaio da Nóvoa, que nos reforçou a ideia de estarmos na iminência da eclosão de um Tempo Novo capaz de pôr cobro à apagada e vil tristeza dos anos anteriores.
Se o antigo reitor da Universidade de Lisboa já era o nosso candidato preferido para Belém, esse momento mágico em que fez levantar toda a plateia e as bancadas da FIL num vibrante aplauso só o confirmaram. E não é preciso estar, por uma única vez em acordo com o que Vasco Pulido Valente diz esta semana ao «Expresso» para aventar a forte probabilidade de depressa se esgotarem os «afetos» e ficar a faltar a tão necessária gravitas de que Marcelo tanto carecerá para vir a tornar-se num Presidente credível.
Ficará sempre como lamentável equívoco essa opção dos portugueses por um histriónico e volúvel personagem, que viu a vitória facilitada pelos que, agora, e finalmente, se tornaram meros figurantes de um Congresso para o qual já nada contam.
Este fim-de-semana não terá sido o de discursos tão memoráveis como os de então, embora mantenha a expetativa pelo que António Costa hoje proferirá à despedida dos congressistas. A saírem da mediania só os dele a abrir os trabalhos, o de Martin Schultz a sossegar os angustiados com a possibilidade de sanções e o de Stanishev a reconhecer o impasse em que se encontram os socialistas europeus. Mas enfatizo, sobretudo, o que foi dito por Manuel Alegre, quando sugeriu a possibilidade de, tal como os portugueses não terem pedido licença a ninguém para levar por diante a Revolução do 25 de abril, também devem ousar prosseguir por esta nova via governativa à esquerda, que possa servir de exemplo aos ensimesmados e inertes camaradas de toda a Europa. É que depois dos cravos empunhados por toda a Lisboa, logo em julho de 74 caía o regime grego dos coronéis e, dois anos depois, era a Espanha, que recuperava finalmente a Democracia, mesmo com o custo de ter de aguentar a Monarquia por mais algumas décadas.
Mas o impacto das ondas de choque do nosso exemplo chegaram mais além com, sucessivamente, o Brasil e a Argentina dos generais e o Chile de Pinochet prosseguirem essa viragem para o crepúsculo das ditaduras.
Viver em Democracia tornou-se num imperativo, que está novamente a ser posto em causa com essa inação dos sociais-democratas e socialistas na Hungria, na Polónia, na Turquia ou em Israel.
Há, pois, que sair desta abulia e avançar para os Tempos Novos, que António Costa e António Sampaio da Nóvoa enunciaram nesse XX Congresso de tão grata memória. Com a satisfação de, nestes seis meses de governação, já termos assistido ao início da sua concretização.
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