domingo, 5 de junho de 2016

Ousar novos caminhos

Dos mais recentes Congressos do Partido Socialista nenhum houve que se comparasse ao de Novembro de 2014, não só por consagrar António Costa como novo secretário-geral, mas também pelo inesquecível discurso de António Sampaio da Nóvoa, que nos reforçou a ideia de estarmos na iminência da eclosão de um Tempo Novo capaz de pôr cobro à apagada e vil tristeza dos anos anteriores.
Se o antigo reitor da Universidade de Lisboa já era o nosso candidato preferido para Belém, esse momento mágico em que fez levantar toda a plateia e as bancadas da FIL num vibrante aplauso só o confirmaram. E não é preciso estar, por uma única vez em acordo com o que Vasco Pulido Valente diz esta semana ao «Expresso» para aventar a forte probabilidade de depressa se esgotarem os «afetos» e ficar a faltar a tão necessária gravitas  de que Marcelo tanto carecerá para vir a tornar-se num Presidente credível.
Ficará sempre como lamentável equívoco essa opção dos portugueses por um histriónico e volúvel personagem, que viu a vitória facilitada pelos que, agora, e finalmente, se tornaram meros figurantes de um Congresso para o qual já nada contam.
Este fim-de-semana não terá sido o de discursos tão memoráveis como os de então, embora mantenha a expetativa pelo que António Costa hoje proferirá à despedida dos congressistas. A saírem da mediania só os dele a abrir os trabalhos, o de Martin Schultz a sossegar os angustiados com a possibilidade de sanções e o de Stanishev a reconhecer o impasse em que se encontram os socialistas europeus. Mas enfatizo, sobretudo, o que foi dito por Manuel Alegre, quando sugeriu a possibilidade de, tal como os portugueses não terem pedido licença a ninguém para levar por diante a Revolução do 25 de abril, também devem ousar prosseguir por esta nova via governativa à esquerda, que possa servir de exemplo aos ensimesmados e inertes camaradas de toda a Europa. É que depois dos cravos empunhados por toda a Lisboa, logo em julho de 74 caía o regime grego dos coronéis e, dois anos depois, era a Espanha, que recuperava finalmente a Democracia, mesmo com o custo de ter de aguentar a Monarquia por mais algumas décadas.
Mas o impacto das ondas de choque do nosso exemplo chegaram mais além com, sucessivamente, o Brasil e a Argentina dos generais e o Chile de Pinochet prosseguirem essa viragem para o crepúsculo das ditaduras.
Viver em Democracia tornou-se num imperativo, que está novamente a ser posto em causa com essa inação dos sociais-democratas e socialistas na Hungria, na Polónia, na Turquia ou em Israel.
Há, pois, que sair desta abulia e avançar para os Tempos Novos, que António Costa e António Sampaio da Nóvoa enunciaram nesse XX Congresso de tão grata memória. Com a satisfação de, nestes seis meses de governação, já  termos assistido ao início da sua concretização. 

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