Os recentes atentados em Orlando e nos subúrbios de Paris confirmaram a emergência de uma forma de terrorismo reticular (o que significa funcionar em rede), que fora teorizado por Abou Moussab al-Souri em 2005 no «Apelo à Resistência Islâmica Mundial» e propunha operações dos jiadistas no seu espaço de proximidade. Tese posteriormente defendida por Abou Mohammed al-Adnani em nome do «Estado Islâmico».
A operação de Orlando faz convergir a cultura dos psicopatas norte-americanos com a do ódio aos homossexuais, que subsiste nos Estados da chamada cintura bíblica, e com a passagem ao ato inerente à estratégia do Daesh, cujo objetivo pressupõe a criação de situações de rutura e de provocação. A morte de pessoas num espaço de diversão dos homossexuais garantiu-lhe à partida uma divulgação gigantesca à escala mundial.
Segundo Gilles Kepel estamos no chamado «jiadismo de terceira geração», que se baseia na criação dos maiores efeitos possíveis com o mínimo custo em meios despendidos.
Com o atentado em Orlando o Daesh consegue um efeito maximizado por condicionar, de imediato, a campanha eleitoral para a Casa Branca como se viu nas reações imediatas de Donald Trump e de Hillary Clinton.
Os atentados provocadores visam suscitar reações emotivas contra os muçulmanos, mesmo os moderados, de forma a criar as condições de uma verdadeira guerra civil passível de provocar a implosão do Ocidente. Nesse sentido o Daesh vota objetivamente em Trump.
Para Kepel os atentados de Paris em 13 de novembro e de Bruxelas em 22 de março foram operações politicamente falhadas por causarem vítimas mesmo entre jovens muçulmanos potencialmente recrutáveis pela retórica do Daesh. Nesse sentido conta a sua experiência de contacto com muçulmanos presos em França, que terão desaprovado esse tipo de atentados. O que decerto não sucederá com os da semana passada, que tinham como alvos uma população especifica permanentemente diabolizada nos vídeos da organização.
Esta poderá, porém, estar a perder a sua capacidade de sedução, tão só se confirme a perda de Falluja, de Mossul e de Raqqa. Sem um território, que reivindique como sendo o do «califado», a sua existência só poderá subsistir na ciber-realidade, ainda muito danosa, mas menos eficiente politicamente.
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