A notícia da «fuga» para a Noruega de refugiados por quem Portugal se responsabilizara, ao mesmo tempo que a reportagem do «Público» de domingo passado sobre dois casais sírios entretanto radicados em Guimarães, demonstra algumas evidências, que só o pensamento «politicamente correto» poderá questionar.
Em primeiro lugar as expetativas criadas nesses refugiados foram tão elevadas, que um país como Portugal só lhes poderá suscitar desilusão. Para serem convencidos a arriscarem a vida em tão perigosa aventura, houve quem lhes acenasse com uma Europa pronta a acolhe-los com empregos fáceis e muito bem remunerados, para além de serviços de saúde prontos a resolver-lhes os problemas mais prementes. No caso dos que o jornal da Sonae entrevistou havia a incompreensão pelo facto de uma das mulheres, que está obrigada a fazer diálise, não ter já recebido o transplante de um rim, como se não existissem listas de espera a respeitar.
O segundo equívoco tem a ver com as diferenças culturais. A ideia de «em Roma sê romano» não funciona para esses casais, cujos homens andaram a passear-se em t-shirt pelo castelo de Afonso Henriques, mas cujas esposas suaram as estopinhas dentro dos fartos agasalhos, que tapavam integralmente o seu corpo.
Podemos e devemos criticar as políticas ocidentais, que islamizaram acentuadamente as populações outrora bem mais laicizadas dos países donde provém os refugiados, mas a realidade é como é, e o que os pais ou avós acreditaram deu lugar a idiossincrasias em total confronto com aquelas em que se veem inseridos.
O terceiro equívoco tem a ver precisamente com essas mesmas políticas dos dirigentes europeus e norte-americanos, que acreditam na perdurabilidade deste fenómeno. O que de melhor poderiam e deveriam fazer era chegarem a acordo com a Rússia e com o Irão para estabilizarem o Iraque e a Síria - e aqui passa por retirar a Assad a imagem de criminoso de guerra, que não têm atribuído aos dirigentes sauditas ou qataris, que financiam os respetivos opositores, e criar-lhes as condições para aí voltarem a coexistir comunidades multiconfessionais, mesmo que sujeitas a um tipo de autoritarismo político transitório, dada a sua incompatibilidade com os ideais democráticos dos que só serviram de idiotas úteis aos líderes islamofascistas.
Resolver o problema dos refugiados significa criar-lhes condições para voltarem à Síria e no Iraque. E, já agora, à boleia, derrubar e levar para ser julgado em Haia o criminoso, que mantém a Eritreia num estado-prisão dos mais hediondos de quantos hoje existem. Porque, caso contrário, as suas frustrações e desenquadramento quanto aos valores defendidos no ocidente só redundarão em situações trágicas como as de Orlando ou Paris.
Receber os refugiados em nome dos valores humanistas, que estão na génese da cultura ocidental revelou-se tarefa de dificuldade bastante mais complicada do que o esperavam Merkel e outros líderes europeus. Mas integrá-los nas nossas sociedades arriscaria a dizer que se trata de algo quase impossível...
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