Será previsível que as comemorações do 10 de junho, em Lisboa e em Paris, coincidam com um hiato de algumas semanas nas pugnas políticas, porque se, habitualmente, já passamos horas e horas a fazer zapping e a encontrar sempre os mesmos estarolas a discutirem a jogada XPTO do jogo entre o Alguidares de Cima e o Alguidares de Baixo ou a decisão do árbitro, que decidiu assim ou decidiu assado, o que será agora com jogos a toda a hora?
Dos três F’s com que Salazar embrutecia as mentes para as manter amansadas contra a sua ditadura, o Futebol é o que goza de melhor saúde, já que o Fado soube renovar-se e eximir-se à má fama do lamento da desgraçadinha ou da inesperada comoção do marialva na corrida taurina, enquanto Fátima vai multiplicando as estratégias de marketing para ir obstando à lenta evolução dos crentes para o agnosticismo e destes para o ateísmo puro e duro.
Este hiato poderá servir à direita para lamber as feridas, porque as últimas semanas não lhe têm corrido de feição por muito que acenem as tais previsões, que tenderão a sair sempre falhadas por muito que tragam a chancela da Comissão Europeia, da OCDE ou do Banco de Portugal.
Sinal evidente do declínio da direita é o progressivo distanciamento da «Geringonça» nas sondagens. Acaso Marcelo fizesse hoje, o que os seus correligionários estavam à espera na altura em que o elegeram - dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas - os resultados seriam dramáticos para os que, ainda há pouco reivindicavam a «vitória» em outubro transato.
Agora já nem se atrevem a prosseguir na estratégia de «Pedro e o Lobo», que os caracterizou meses a fio: tantas vezes reclamaram a iminência da sua vinda, que só se foram progressivamente descredibilizando.
Ademais, sucedem-se-lhes as derrotas e a mais evidente é a dos contratos de associação com os colégios privados em que nem sequer lhes valeu o apoio declarado, ou implícito, da Igreja Católica ou do próprio Marcelo.
Outras houve igualmente importantes como a ocorrida com a demissão da chefia militar por causa da política homofóbica seguida no Colégio Militar e prontamente resolvida sem margem para réplicas de tão momentâneo sismo. Ou o acordo conseguido na TAP, afinal mantida na esfera pública, apesar da vigarice intentada por Passos Coelho para, já em governo de gestão, a passar definitivamente para mãos privadas.
Mas este hiato poderá, igualmente, servir para o governo apresentar os resultados da execução orçamental nestes primeiros cinco meses do ano, que desmentirão os cenários catastróficos anunciados pelos suspeitos do costume, quando surgiram os do primeiro trimestre, sem que então se tenha dado a devida importância à paragem técnica da refinaria de Sines ou a sabotagem operada por Carlos Costa, no Banco de Portugal, ao reduzir os dividendos a pagar ao erário público e a atrasá-los de forma a beliscar esses indicadores momentaneamente adulterados na realidade efetiva da situação financeira do país.
Se não podemos ignorar a conjuntura internacional, que prejudica a alavancagem pretendida pela estratégia do governo com o aumento do consumo privado, devemos confiar na grande capacidade sempre demonstrada por António Costa para superar os desafios mais exigentes. Ao contrário do que sucedia há um ano temos um governo constituído por pessoas de talento, apostadas em fazer do país aquele espaço de decência onde as maiores injustiças possam ser corrigidas.
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