Os países industrializados, particularmente, os da Europa, vão acumulando desequilíbrios que o Brexit só tenderá a agravar. Vivem o que se pode designar por uma «estagnação secular», que nenhuma das medidas até agora tomadas pelo Banco Central Europeu conseguiu pôr cobro. E, no entanto, as carências sociais são tão imensas quantos os desafios ecológicos.
Ora os políticos e os economistas, que comandam os destinos europeus, não conseguem sair do triângulo formado pelos conceitos de crescimento-mercado-competição. Dentro do seu pequeno círculo de burocratas de Bruxelas e de líderes do Eurogrupo não existe alternativa a esta formatação, que a maioria já determinou esgotada, exigindo ideias novas.
Para Daniel Cohen, uma das vozes mais avisadas da atualidade na qualidade de professor da Escola de Economia de Paris, os economistas devem ser muito minuciosos na constatação da realidade e muito prudentes na proposta de políticas. Ao contrário do que se tem verificado nos últimos anos, deve-se deixar à economia o que a ela incumbe, e à política o que só ela deve decidir. É por isso que a passagem de Vítor Gaspar pela tutela financeira do país se revelou um desastre, de que à primeira oportunidade se quis livrar, e a preservação da influência de um advogado armado em economista, como é Schäuble, redunde num desastre de dimensão continental.
É que, nos últimos cinquenta anos, os economistas já tiveram de mudar duas vezes de paradigma: nos anos 70 transitaram do pensamento keynesiano para o neomonetarismo para vencer a estagflação então persistente. Liderados por Friedman e os demais “gurus” da Escola de Chicago, supuseram racional o comportamento das economias, o que suscitaria a criação de equilíbrios entre oferta e procura naquilo que tanto incensaram como a «mão invisível». Mas, nos anos 90, Stieglitz e Kahneman declararam falida essa tese, que fundamentaria uma suposta revolução liberal (ou neoliberal na gíria mais comum).
Hoje coloca-se a necessidade, não propriamente de um regresso a Keynes, mas de tudo repensar quanto ao crescimento, ao desenvolvimento, à finança, ao empreendedorismo, às desigualdades ou à fiscalidade. Urge, pois, dar como morto e enterrado esse paradigma do mercado-racionalidade-equilíbrio geral.
O que Cohen defende é que os economistas só têm de dar um diagnóstico sem se atreverem a propor uma «verdade». Cabe-lhes tão só dar as ferramentas para que a opinião pública reflita com mais consistência e os políticos delas se possam apropriar.
É nesse contexto que, embora Cohen não o diga, caiba aos neomarxistas adaptarem essas constatações à realidade presente e nela recriarem as condições de transformação das sociedades para os objetivos republicanos de uma maior liberdade, igualdade e justiça social.
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