Bem pode o Banco Central Europeu comprar dívida em quantidades monumentais para evitar males maiores, que o terramoto financeiro não terá paralelo com a dimensão do dominó político. Já não se tratará da União Europeia querer salvar-se do Reino Unido, mas da urgência em libertar-se de toda a parafernália de políticas que geraram mais euroceticismo do que euro entusiasmo.
Tsipras dá o mote, do que será decerto subscrito pelos governos ibéricos, e também por uma Itália a braços com os seus próprios demónios: “É urgente uma nova visão e um novo começo para uma Europa unida, mais social e democrática”.
À primeira vista não está a ser ouvido, como se demonstrou na reunião de seis ministros de Negócios Estrangeiros, que tomaram decisões, que cabem por direito ao Conselho Europeu da próxima semana. Mas entende-se que os eurocratas tenham ficado de tal forma em pânico, que quiseram dar sinal de não estarem ainda tolhidos de espanto e fingirem, que estão a fazer qualquer coisa.
Será interessante verificar qual será a reação dos líderes europeus, quando se reunirem no rescaldo das eleições espanholas e enfrentarem o ponto de vista dos que pensam como Augusto Santos Silva que, em texto publicado no «Expresso», considera que a União Europeia “não pode reagir ao Brexit com novas derivas integracionistas, que não seriam acompanhadas pelas pessoas. Não se trata de exigir (…) uma súbita marcha forçada para patamares mais altos de federalização. Agora, não precisamos de ‘mais Europa’, mas de uma Europa mais bem compreendida e assimilada pelos seus povos e nações.” Ou como sintetiza numa frase eloquente: “Integração europeia? Certamente, mas hoje prefiro sublinhar unidade europeia”.
No mesmo jornal, Daniel Oliveira repete que manter a estratégia de reduzir as proteções sociais como resposta ao processo da globalização “é a receita para uma catástrofe política”.
Nas próximas semanas a União Europeia tenderá a escolher entre dois males inevitáveis, na perspetiva de Pedro Adão e Silva: “se, agora, para vacinar a Europa, a UE impuser condições draconianas ao Reino Unido, as consequências económicas e financeiras serão devastadoras; se a UE permitir uma saída suave, as consequências políticas serão trágicas — outros países perderão o receio.”
A solução é aquela que a maioria dos eurocratas nem sequer pondera tomar e que passa por compreender as razões porque são, sobretudo, os pobres e os mais velhos, os que alimentam os diversos movimentos populistas e xenófobos um pouco por toda a Europa. Muitos deles até foram, em tempos, comunistas, socialistas, trabalhistas, mas agora, sentindo-se abandonados por quem lhes ameaça o pouco de que ainda dispõem, pretendem travar uma dinâmica também ela sem rumo, porque esquecida dos objetivos de convergência e de combate às desigualdades, que estavam no pensamento dos pais fundadores da antiga CEE.
Racionalmente os economistas podem inventariar milhentas razões para que o Brexit seja um erro, mas os britânicos serviram-se do que ainda lhes sobejava como réstia de Democracia para darem uma lição a quem dela anda particularmente esquecido.
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