quinta-feira, 2 de junho de 2016

Eu sei que sou intransigente

Ontem, ao almoçar com um amigo a propósito da política atual, reconheci-me como intransigente: posso reconhecer que, em certos momentos é necessário conciliar o inconciliável - sim, em 2002 eu teria votado em Chirac à segunda volta nas presidenciais francesas, quando o seu competidor era Le Pen! - mas nunca me sentirei confortável nas afinidades com quem é de direita.
Por isso mesmo, e ao fim de trinta anos de militância no PS, sinto-me finalmente satisfeito, porque nunca me senti confortável com a sua condição de partido charneira, antes o encarando mais entusiasticamente nesta presente conjuntura de líder da esquerda plural. Como sempre disse onde quer que fosse, o PSD e o CDS eram os inimigos políticos, porque o PCP ou o Bloco constituíam os adversários com que seria desejável estabelecer pontes virtuosas para benefício da maioria dos portugueses.
Dois dos parâmetros, que considero fundamentais para respeitar alguém - irrepreensível ética comportamental e honestidade intelectual - muito raramente os encontro nos que se assumem como de direita. Basta ouvir as declarações de Maria Luís Albuquerque a propósito do relatório da OCDE sobre a política portuguesa para ver ali expressa, no seu maior esplendor, o que pode ser a falta de escrúpulos de quem sempre andou a corrigir as contas públicas em sucessivos retificativos e agora pretende fazer escândalo a propósito das do governo socialista, mesmo sem qualquer evidência concreta delas não virem a ser cumpridas.
E, mesmo à esquerda, encontram-se facilmente os vigaristas capazes de «albergar» em casa dúzias de «militantes» para os utilizar em seu proveito na altura das votações das secções ou concelhias (vide os exemplos recentes de Coimbra ou do Seixal) ou os que, como António Galamba vem evidenciando nos últimos dias, reagem com um despeito, justificativo da forma tortuosa como ofendem a inteligência de milhares de socialistas. Uns e outros, embora formalmente, se assumam como militantes de esquerda, não me merecem de forma alguma o tratamento de «camarada».
É por isso mesmo, que encaro com expetativa o prometido processo de refiliação prometido pela direção do PS para o segundo semestre do ano, fazendo votos que não sirva para mascarar as fraudes existentes nalguns locais do país. 
A ser efetivamente bem conduzido tenderão a ser corrigidas algumas distorções gravosas para a sanidade política do Partido. E talvez se ponha um ponto final nas perversões, que têm constituído, há alguns anos, o lado mais sombrio da história do Partido e que teve particular expressão durante o período em que António José Seguro foi o seu secretário-geral...

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