Na sua breve passagem pelo nosso país, onde veio dar uma conferência, Christian Fuchs teve tempo para proporcionar uma entrevista ao «Público».
A interpretação, que faz da atual crise europeia é consensual: começou em 2008 nos Estados Unidos e logo causou uma profunda recessão na Europa. Radicou nessa realidade a crescente viragem política para a direita com a ascensão das ideias nacionalistas. À austeridade, que caracterizou estes anos ele atribui uma definição mais precisa: andámos a viver sob a égide de um hiper-neo-liberalismo, que destruiu a classe média.
Segundo o professor da Universidade de Westminster os recentes fenómenos de massas em torno de Corbyn ou de Sanders demonstram o surgimento de uma nova base social de apoio, constituída por jovens, que redescobrem o entusiasmo da participação política e se juntam aos antigos militantes das lutas estudantis dos anos sessenta. Pelo meio ficou um hiato geracional com os que foram jovens nos anos 80 e 90 e se renderam de bom grado às ilusões do capitalismo neoliberal.
Assiste-se, pois, ao revigoramento das ideias de esquerda e, nomeadamente, de socialismo, que mais não significa do que a reconquista dos meios de produção pelas pessoas, resgatando-os às grandes corporações financeiras e a tomada coletiva de decisões mediante as prerrogativas da democracia participativa.
Mas onde as palavras de Christian Fuchs contiveram maior novidade foi no tema, que já lhe serviu de mote para o seu best-seller «Occupy Media - O Movimento Occupy e os media sociais num capitalismo em crise».
O seu alerta é para o paradoxo de nos estarmos a servir das redes sociais, que pertencem a grandes empresas como o Google, o Facebook ou o Twitter, para disseminar as propostas de transformação social, quando sabemos o quanto elas as pretenderão dificultar. Os nossos interesses enquanto utilizadores são contraditórios com os que lucram com esse serviço, mas o não querem sujeitar a nenhum tipo de regulação.
Nãos será, pois, difícil de imaginar uma eventual decisão dos donos dessas grandes empresas em filtrarem os conteúdos, que passem pelas suas plataformas. Poderiam, por exemplo, impedir a publicação de textos orientados numa direção política a contracorrente do que lhes mais interessaria preservar.
Por ora a inexistência de censura tem só um objetivo: como Snowden demonstrou essas plataformas andam a ser utilizadas pela CIA, pela NSA e outras entidades similares para colherem as informações, que maior interesse despertem às intervenções imperialistas. O Big Brother orwelliano está já em completa roda-livre...
Fuchs propõe, pois, a criação de novas plataformas de acesso à Internet e a outros medias sociais alternativos e que sejam geridos de forma independente por organizações sem fins lucrativos. E, no entretanto, obrigar a Google, o Facebook & Cª a pagarem os impostos devidos, sem lhes possibilitar o acesso às offshores pelas quais têm sonegado à comunidade internacional os muitos milhões, que lhe são devidos e passíveis de contribuírem para a redução das disparidades entre os muito ricos e os muito pobres.
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