sábado, 24 de setembro de 2016

Camboja: o capitalismo no seu esplendor

No Camboja o roubo das melhores terras aráveis dos camponeses tornou-se prática comum, com prejuízo para milhares de desalojados. Num país ainda traumatizado pelos anos de terror causados pelos khmers vermelhos, o poder político que os substituiu tornou-se corrupto. Por isso não é de  estranhar que uma das maiores fortunas do país, a do senador Li Yong Phat, continue a tornar-se mais obscena graças às plantações de açúcar por ele tuteladas  depois de expeditos processos de expropriação dos mais pobres.
Atualmente 65% das terras aráveis do Camboja já foram atribuídas a latifundiários locais ou estrangeiros, nomeadamente, vietnamitas.
Por muito que os camponeses reclamem, e contem com o apoio de alguns proeminentes membros do clero budista, a força das armas do Exército, normalmente chamado para «convencer» os mais recalcitrantes basta para transformar o roubo das terras numa situação de facto. Alguns desses expropriados acabam por se ver obrigados a trabalhar como assalariados de baixo custo nas terras outrora na sua posse e onde também é comum ver a utilização intensiva de trabalho infantil.
No total contam-se já 80 mil hectares espoliados a camponeses para produção intensiva de açúcar destinado à Europa, algum do qual estará decerto nos nossos pacotes destinados a adoçar os cafés ou no utilizado na pastelaria.
E, porque a União Europeia desenvolveu programas de apoio aos países subdesenvolvidos, esses exportadores radicados no Camboja não pagam quaisquer taxas por essas mercadorias. No fundo aproveitam-se da tendência das multinacionais do setor agroalimentar em imporem a criação de grandes latifúndios no Terceiro Mundo para a maximização da rentabilidade dessas explorações às quais vendem fertilizantes, inseticidas e sementes. É o capitalismo em todo o seu esplendor em regiões geográficas onde a pobreza continua a ser endémica.
Ainda assim o desagrado social vai conhecendo um incremento tal que, recentemente, mais uma tentativa de expropriação para a plantação intensiva da árvore da borracha foi travado in extremis. Faltará constatar se o recuo do governo perante o tumulto das populações foi uma exceção à regra ou se tenderá a ser uma inflexão política no sentido de reconhecer a necessidade de mudança tendo em conta as pressões da própria União Europeia em cercear as condições muito favoráveis dos negócios com ela estabelecidos a partir desse país asiático.


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