A crise atual do capitalismo mostra os limites com que ele se confrontou ao julgar possível a subjugação da economia imaterial e da Internet à sua lógica da comercialização, quando nela impera o princípio da gratuitidade.
Toca-se pois a finados sobre essa New Economy , concebida nos anos 90, quando ambicionava revitalizar o capitalismo na sua forma digital. Precisamente quando os seus defensores tinham acabado de anunciar a desintegração do socialismo de Estado apontando como causa a inadequabilidade a essa digitalização da Economia e da vida social. Hoje, também o capitalismo está a ser minado pelo princípio marxista da contradição entre forças produtivas e relações de produção.
Por isso mesmo o marxismo é a única ferramenta que nos permite analisar a atualidade e o que no passado correu mal, quando se procuraram aplicar modelos dele supostamente inspirados e que resultaram em dolorosos fracassos. A alternativa social-democrata já não funciona, porque é impossível assegurar o compromisso entre o trabalho pago e o capital produtivo contra o poder financeiro. Como se constata com os partidos dessa matriz, que insistem em conciliar mercado com maior igualdade, o declínio está a revelar-se prolongado e irreversível.
A dimensão alcançada pelo capitalismo financeiro só será travada e infletida mediante uma maior regulação do mercado, tarefa assaz difícil tendo em conta todo o arsenal de argumentos e obstáculos com que ele procurará evitar tal solução. Por isso só uma democracia socialista poderá conseguir que a sociedade tome conta da economia e das rédeas do Estado, o que implica retomar o receituário do marxismo mais ortodoxo, que identifica a inevitabilidade das relações de mercado como sempre favorecedoras da exploração e da desestabilização suscitada pelos excessos.
Conta Slavoj Žižek: “Quando Panait Istrati, um escritor romeno comunista, visitou a União Soviética nos finais da década de 20, a época das primeiras purgas e julgamentos-espetáculo, um defensor soviético, que tentou convencê-lo da necessidade de violência contra os inimigos da União Soviética, invocou o provérbio ‘Não se pode fazer uma omeleta sem partir ovos’, ao que Istrati respondeu ironicamente: ‘Está certo. Consigo ver os ovos partidos. Mas onde está a tal omeleta?’”
Deve-se dizer o mesmo sobre as medidas de austeridade impostas pelo Fundo Monetário Internacional, a propósito das quais os gregos poderiam perguntar com toda a justificação: “Muito bem, estamos a partir os nossos ovos pela Europa toda, mas onde está a omeleta que nos prometeram?”
A especulação financeira almeja fazer a omeleta sem partir nenhum ovo, mas o resultado pode ver-se em Chipre, que acabou no colapso financeiro.
O que nos querem impor é uma Europa cada vez mais desigual com o sul reduzido a uma zona de mão-de-obra barata, fora da rede de segurança do Estado Social, um domínio apropriado para subcontratações e turismo. A única alternativa é outra política que imponha um outro modelo bancário, se preciso for com a sua socialização.
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