Transparência, legalidade e correção - eis os três princípios inegociáveis reivindicados por Fernando Medina para travar a continuidade do projeto para a Segunda Circular. E esta decisão, que poderia aparentemente virar-se contra a provável recandidatura do autarca da capital, só a valoriza por corresponder aos imperativos de um tempo novo onde a corrupção seja o mais eficazmente combatida. Às vezes é este tipo de decisões corajosas, tomadas no momento certo, que confirma a verdadeira estatura política de quem as protagoniza.
Não sei quem são os acionistas da Consulpav, a empresa encarregada de estudar qual o pavimento mais adequado para o tipo de tráfego diariamente verificado naquele eixo fundamental da entrada de veículos em Lisboa, mas a sua decisão de aconselharem uma solução e, logo a seguir, alterarem o seu contrato social de forma a incluírem na sua atividade o fabrico e comercialização da mesma, é daqueles chicoespertismos tipicamente lusos e que tanto dano têm causado à nossa qualidade de vida.
No entanto , eis um caso paradigmático, em que valeria a pena conhecer quem manda efetivamente nessa empresa, tanto que se sabe subcontratada por um dos concorrentes à empreitada, em fase avançada da elaboração da proposta, porque poderíamos compreender se se tratou apenas de um caso de vigarice sem escrúpulos, se de algo bem mais tenebroso e com fins políticos bem definidos.
Para já só podemos congratularmo-nos por se ter sabido a tempo dessa manigância e tomar-se a decisão de não lhe dar provimento. Imagine-se o que seria esta matéria nas mãos dos propagandistas da direita em plena campanha eleitoral? Porque quem sabe se todo este imbróglio não fazia mesmo parte de uma estratégia pensada pela direita para conseguir mais facilmente aquilo que se adivinha vir a ser uma hipótese remota, com ou sem Santana Lopes: recuperar o controlo do município?
O excelente trabalho conseguido em mandatos sucessivos de António Costa e Fernando Medina não pode ser desperdiçado pela política sem escrúpulos de uma direita capaz de agir cada vez mais como uma delinquente ideológica. É que o modus operandis da direita brasileira não é exclusivo dos que conspiraram contra Dilma: um pouco por todo o lado, os que defendem a preservação do sistema de exploração capitalista não olham a meios para salvaguardarem os seus interesses. Aparentando algum acatamento nas regras democráticas nuns casos, espezinhando-as totalmente noutros como sucede na Turquia, na Hungria ou na Polónia.
Por cá a direita ainda não se definiu como deverá agir: ora fingindo-se respeitadora de uma Constituição, que desejaria torpedear, ora conspirando contra os seus inimigos fidalgais para o que conta com a colaboração da generalidade dos jornais, das televisões e do ministério público.
A requalificação da Segunda Circular continua a ser uma obra urgente para a cidade e terá de ser retomada a fim de conseguir que a cidade se vá tornando cada vez mais bela e assim suscite uma maior atração pelos fluxos turísticos, que gerarão receitas não despiciendas para a nossa economia.
Algo terão aprendido os futuros candidatos à empreitada em causa: o edil de Lisboa está atento e não permitirá que a tal transparência, legalidade e correção possam ser postas em causa.
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