Na perspetiva de Assunção Cristas eu enquadro-me na tal classe média, que ela diz ser tida como rica pelas esquerdas. De facto tenho carro e casa própria, o que significa ver-me como recetor privilegiado da sua mensagem discursiva a encerrar os trabalhos da sua escolinha de betinhos, desculpem o lapso, quero dizer quadros do CDS.
Teria, pois, muito a ganhar com a “sensatez” por ela proposta para a governação de que ainda mal saiu. O pior é eu não me esquecer que, à conta dos cortes, que o governo do PSD e do CDS, me fizeram nas remunerações mensais, vi-me delas esbulhado em 1o% durante vários anos. O que significa uns razoáveis milhares de euros capazes de ainda me tornarem mais “classe média”, permitindo-me outros luxos dignos dessa condição como por exemplo mais viagens para ir ver a minha neta, cujo crescimento vou acompanhando a excessiva distância.
Assunção Cristas está, pois, a ser mentirosa e desavergonhadamente populista, como se tem acentuando nos últimos tempos com o discurso anti-partidos e anti-sindicatos. Tudo para ganhar os votinhos das beatas de sacristia e dos devotos mais empedernidos, quando a Democracia prescinde bem das igrejas para se concretizar - por isso reconhece a liberdade religiosa - mas não prescinde de Partidos e de Sindicatos. O insulto que a líder do CDS fez à inteligência da maioria dos portugueses, que não compreendem como ainda é possível manter uma Concordata com o Vaticano negociada pelo salazarismo, é uma pérola acrescida ao pensamento bafiento de tal criatura.
Mas também Passos a tenta imitar em desaforo. Ouvi-lo dizer no discurso da escola laranja do mesmo tipo de betinhos, desculpem, quero voltar a dizer quadros do PSD, que “reafirmar que o primado da política é sempre a pessoa e a sua dignidade”, é mais do que risível, porque os quatro anos de governação da direita foram mais do que eloquentes na demonstração que a sua prioridade sempre foram os interesses dos mandões da Europa cujas ordens cumpria sem tergiversar e de todos os amigos, que foram abocanhando as empresas privatizadas e o quinhão desleixado pelo Estado na Educação e na Saúde, tão oportunamente transformados em rendas sob a forma de subsídios, apoios e acordos de associação.
Quer Cristas, quer Passos, quer por exemplo os opinadores do «Eixo do Mal» desta semana, estão condenados a reverem o discurso à medida que o ano for evoluindo e as políticas do governo começarem a surtir efeito. Basearem-se em números do primeiro semestre, depois do atraso da entrada em vigor do Orçamento de Estado para 2017 - culpa óbvia de Cavaco, que marcou as eleições para a data mais conveniente para o PàF e tudo fez para sonegar a António Costa o direito para formar governo! - continua a ser demasiado precipitado. Tanto mais que começarão a ter expressão os aumentos de receitas colhidos por um ano excecional da indústria do turismo e que os dinheiros provenientes do Programa 2020 também infletirão a curva negativa do investimento.
Se Passos Coelho engoliu a história do Diabo em setembro, mais terá de se socorrer de sais de fruto para a alteração de discurso a que se verá obrigado. E talvez tome igualmente maiores cuidados para não impedir a putativa parceira à direita de se fazer ouvir até ao fim, como sucedeu este fim-de-semana nos discursos em causa. É que, além de necessitar de um bocadinho mais de inteligência para se livrar do labirinto mental onde está encerrado, a boa educação deve sempre ser um requisito do líder político digno desse nome, deixando qualquer senhora concluir o que tem a dizer antes de se lhe sobrepor. Mesmo que a senhora em causa seja Assunção Cristas, que, bom, fico-me por aqui...
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