Um dos programas que mais aprecio ver na RTP é «Os Números do Dinheiro», onde podemos assistir ao terçar de argumentos entre Ricardo Paes Mamede e Jorge Braga de Macedo, com António Peres Metello e Teixeira dos Santos no papel de moderadores.
Sei que em relação ao antigo ministro do governo de José Sócrates alguns logo dirão, que ele ocupa o mesmo estatuto de Mamede e de Macedo, mas a designação de «moderador» tem para ele um significado distinto de Metello, que desempenha esse papel formal, porque ele se situa no frágil equilíbrio entre posições opostas, ora aproximando-se algumas vezes da posição ideológica mais à direita, ora a maior parte das vezes a acompanhar a situada mais à esquerda.
No programa de ontem foi demasiado expressiva a diferença entre o brilhantismo argumentativo de Mamede em contraponto com o simplismo medíocre daquele que, no tempo do cavaquismo, se considerava um «adiantado mental».
Ficámos assim a perceber melhor, através de gráficos fáceis de compreender, como a quebra das exportações no primeiro semestre é só aparente, apesar de todos os comentadores de direita se esforçarem por dá-la como exemplo quase definitivo do «falhanço» das políticas do governo. Só Mamede lembrou agora o papel determinante da paragem anual da Refinaria de Sines para reduzir em mais de 700 milhões de euros as receitas daí auferidas. E Angola terá tido um impacto quase idêntico ao da quebra total verificada. Assim, sem ambos os fatores - produtos refinados e Angola - as exportações teriam subido 3,3%, sendo quase de 7% esse crescimento para a União Europeia.
Relativamente à quebra no Investimento ela é explicada pela paragem dos projetos públicos, desde que se concluiu o Túnel do Marão. E aqui tem causa fundamental a preocupação do governo em conseguir um défice abaixo de 2,5% do PIB. Acaso a Comissão Europeia levasse em conta o apelo quase desesperado dos líderes dos Bancos Centrais de todo o mundo reunidos recentemente em Jackson Hole, quanto à necessidade de políticas de crescimento como prioritárias em relação à redução das dívidas soberanas, e outra realidade se concretizaria: imagine-se o impacto económico, que a possibilidade de, por exemplo, ser facultado um défice de 4 ou 5%, que possibilitasse de imediato as construções de hospitais, que estão por concretizar ou de outros investimentos públicos fundamentais para o desenvolvimento do País? Numa situação desse tipo o quase parado setor da construção constituiria uma alavanca poderosa na criação de emprego e de riqueza tão necessárias para a saída desta «morte lenta» em que reconhecidamente nos encontramos.
Uma palavra final, ainda para o programa de ontem, quando Braga de Macedo se atreveu a dizer que a crise da banca nacional ainda é devida à «cultura» oriunda da época em que era nacionalizada. Como se ela tivesse conhecido então falências, sequer aproximadas, das que vericaríamos recentemente com o BPN, o BPP, o BES ou o Banif.
Como Ricardo Paes Mamede recordou, o problema vem de muito depois, quando as privatizações levaram muitos grupos económicos a formarem-se sem qualquer capital próprio, apossando-se dos bancos com empréstimos dos mesmos, e depois criaram a partir dos anos 90 uma estratégia apenas baseada no alcatrão e no cimento.
Aguardo com expetativa as próximas «tareias» argumentativas que o adiantado mental levará do excelente professor de Economia, que tem pela frente.
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