A Cimeira das Nações Unidas agora decorrida em Nova Iorque não alterou em nada a triste sorte dos 65 milhões de refugiados e deslocados, saídos de suas casas por mera questão de salvarem a pele das ameaças, que os extravasam.
Os que já ajudam, como é o caso do Líbano ou da Jordânia, estão a rebentar pelas costuras, e os que a negam, com o grupo de Visegrado à cabeça, não sofrem as merecidas represálias pela sua falta de humanidade. Entre uns e outros, há os que querem ajudar mais, o caso de Portugal, mas sem que lhes facultem os interessados nesses apoios, ou os que, à falta de receberem estes desesperados, vão abrindo os cordões à bolsa para lhes minguar as necessidades, como sucede com a China.
É verdade que existem, e existirão, riscos de segurança com os que os jiadistas conseguirem infiltrar entre os trânsfugas pelo Mediterrâneo, razão para cuidar eficazmente da sua integração, dando-lhes perspetivas de futuro em vez de os condenar às prisões mentais do passado. Mas esta crise também coincide com os primeiros indícios de uma sustentada e significativa redução do volume de empregos disponíveis numa Europa onde a economia digital e a robótica já anunciam uma sociedade muito diferente da atual em que as remunerações, os tempos de trabalho e as ofertas de lazer e de cultura terão de ser muito diferentes.
Uma análise marxista da realidade, mesmo que aligeirada, acentua a correspondência que sempre existiu entre os sistemas económicos e as tecnologias em que assentam os meios de produção. O capitalismo, embora tenha conhecido a sua fase primitiva com as trocas comerciais decorrentes do comércio marítimo alavancado na época dos Descobrimentos, só verdadeiramente se afirmou com a industrialização decorrente da invenção da máquina a vapor.
Ora a sociedade tecnologicamente desenvolvida, cuja transformação se acelera aos nossos olhos quase incrédulos, não se coaduna com as regras fundamentais do capitalismo, cujo crepúsculo se acentuará à medida que as sucessivas crises económicas e financeiras não recolherem dele as respostas devidas.
Quem aposta no socialismo como solução para esse futuro, que se deseja tão próximo quanto possível (na volta os amanhãs que cantam podem não ser tão distantes quanto alguns o quiseram fazer parecer!) sabe que se exige mais e melhor Democracia, o que equivale a um respeito inequívoco pelos Direitos Humanos. Ostracizando, e até combatendo sem tréguas, os que não os respeitam. E esse é o desafio que as esquerdas a nível mundial deverão enfrentar em futuras cimeiras com ou sem António Guterres como secretário-geral.
Ainda parecem poucos os que pugnam pela alternativa? São, porém, já muitos os que sabem possível uma outra sociedade e ainda mais os que a desejam sem disso terem consciência. Ora, da leitura dos «Dez Dias que Mudaram o Mundo» de John Reed, compreende-se como, em 1917, os sociais-democratas bolcheviques eram uma minoria reduzidíssima no povo das cidades mais turbulentas, não chegando a angariar 5% de apoios firmes. E, no entanto, contra os mencheviques e contra os czaristas, eles avançaram para a conquista do Palácio de Inverno.
Essa é outra das realidades que o marxismo nos ensina: são as maiorias silenciosas, que mantém os regimes enquanto eles vão garantindo as condições para a paz social, mas são as minorias mais ativas as que concretizam as Revoluções. E isso tanto é válido para as que, por serem de esquerda, apontam para o futuro, como para as que, de sinal contrário (enfeudadas ou não a credos religiosos!), apostam no recuo do relógio da História.
Na crise dos refugiados, e nas suas soluções, definir-se-á em que direção veremos os ponteiros evoluírem nos tempos mais próximos.
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